Fragmentando

 


Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei 

O quanto inteiro achamos que estamos, quando nos deparamos com nossa imagem refletida no espelho? De repente, começamos a nos observar e vamos nos tornando cacos, pedaços, fragmentos. Nosso reflexo já não é mais único e nos deparamos com não mais "eu", e sim "nós".

Somos um ser para cada momento, ação, movimento, e isso não quer dizer que fingimos e nos tornamos algo “multi”, mas sim como somos vistos pelos outros. Pode parecer clichê, assunto repetido, gasto, mas não deixa de ser muito real e presente.

Trazendo isso para o probacionista por exemplo, é um momento muito interessante quando ele para e olha para si, e esse movimento de olhar ocorre com outros olhos.


Creio que alguns fatores podem influenciar, e se formos falar de questão de idade, maturidade, alguns vão bater o pé e fazer birra dizendo que são maduros do alto dos seus 20 anos...

Sim, alguns podem ser, porém há coisas que somente o tempo traz, somente o tempo ensina. Experiência, bagagem de vida é algo que só se adquire vivendo. Caindo, levantando, e aprendendo com isso.

Essa auto observação nunca será a mesma. Nossa visão de nós mesmos sempre estará mudando, e se não mudar, há algo de errado.

Uma questão que muitos comentam é fazer terapia, e o quanto ela auxilia no processo de evolução dentro dos estudos de Thelema, por exemplo. Faz sentido, afinal estamos lidando com algo que busca respostas, anseia por se saber, se conhecer.

Nesse processo muitas coisas ocorrem. Há novas descobertas, nos deparamos com lados que não percebíamos. Passamos a fazer coisas que não tínhamos o hábito, como rituais e práticas, e isso causa alguns impactos. A questão da terapia nesse processo, em minha opinião vem a complementar muito desse exercício de auto descoberta.

Thelema, no que sinto, não ser trata de fazer uma coisinha mágica aqui, uma leitura ali. Para mim toca muito nessa questão do se lapidar, se conhecer (lado filosófico mais abundante...), e isso nos fragmenta.

Esses fragmentos servem muito para que percebamos o que não somos. Esses reflexos, nos cacos caídos ao chão nos ensinam que a realidade se reflete de forma distorcida, em pedaços. Esses reflexos são de uma única coisa, porém eles se partem infinitamente.

Onde está então a Unidade que buscamos?

A imagem que obtive hoje de manhã, enquanto tive inspiração para esse texto foi justamente de um espelho quebrado, cacos ao chão, e no meio desses fragmentos uma pérola, pequena, com uma tênue luz dourada.

As mãos lentamente tocando essa pérola, essa pequena representação daquilo que somos...


Como eu disse no início do texto, pode parecer clichê, mas se não nos tornarmos fragmentos, talvez não sejamos capazes de perceber o quanto nos enganamos, nos auto iludimos achando que somos isso, ou aquilo.

Eu comentei também a questão de idade e maturidade, porém, também sabemos que algumas pessoas, mesmo com uma idade mais avançada, insistem nos mesmos caminhos, nos mesmos processos, ou se atém ao que “são”, sem procurar caminhar pra frente. Ficam estagnadas porque acham que já chegaram a algum lugar, quando a realidade é bem diferente.

É um processo complicado, delicado, individual.

Cada um passa pelos seus aprendizados, cada um tem suas maneiras e ferramentas. Percebe aquilo que fala com seu interior, que dialoga com sua Alma. Porém, penso que alguns processos sejam muito parecidos para todos, e a fragmentação é um deles.

Para mim é um processo muito interessante, gostoso, dolorido as vezes, mas me faz sorrir ao observar o quanto, em minha inocência, ingenuidade, pensamento “infantil”, eu tinha achismos e “certezas”, e me deparar com os novos aprendizados tem sido algo muito bom.

Valorizemos então cada momento de “crise existencial”, cada escorregão, cada momento em que nos deparamos com situações que nos mostram o quanto estávamos errados.

Há todo um processo de iluminismo científico, há um processo mágicko, há um processo psicológico, e há muitos e muitos outros...

A questão é realmente não ter ânsia de resultado, encontrar seu ritmo, procurar ser firme para mantê-lo, seguindo em frente.

Disciplina, dedicação e leveza.


Penso na leveza pois precisamos dessa sutileza para sermos capazes de lidar com tudo, da melhor forma possível, da forma mais equilibrada. Tendo leveza podemos fluir com o que deve ser e não com o que apenas desejamos que seja.

Amor é a lei, amor sob vontade


Soror Ὑπατία



(English Version)

Fragmented

Do what thou wilt shall be the whole of the Law.

How whole do we think we are when we are faced with our image reflected in the mirror? Suddenly, we start to observe ourselves and we become shards, pieces, fragments. Our reflection is no longer unique and we are faced with no longer "me", but "us".

We are a being for each moment, action, movement, and that does not mean that we pretend and become something “multi”, but as we are seen by others. It may seem like a cliché, a repeated, worn subject, but it is still very real and present.

Bringing this to the probationer for example, it is a very interesting moment when he stops and looks at himself. And this movement of looking occurs with other eyes.

I believe that some factors can influence, and if we are going to talk about age, maturity, some will stomp and throw a tantrum saying that they are mature from the top of their 20s ...

Yes, some may be, but there are things that only time brings, only time teaches. Experience, life baggage is something you can only get by living. Falling, getting up, and learning from it.

This self-observation will never be the same. Our view of ourselves will always be changing, and if we don't, there is something wrong.

One issue that many comment on is doing therapy, and how much it helps in the process of evolution within the studies of Thelema, for example. It makes sense, after all we are dealing with something that seeks answers, yearns to know itself, to know itself.

In this process many things happen. There are new discoveries, we are faced with sides that we did not perceive. We started to do things that we were not used to, such as rituals and practices, and this has some impacts. The question of therapy in this process, in my opinion, complements much of this self-discovery exercise.

Thelema, as I feel, is not trying to do a little magic here, a reading there. For me it touches a lot on this issue of polishing, getting to know oneself (philosophical side more abundant ...), and that fragments us.

These fragments are very useful for us to realize what we are not. These reflections, in the pieces that fall to the ground, teach us that reality is reflected in a distorted way, in pieces. These reflections are of one thing, but they are broken infinitely.

Where, then, is the Unity we seek?

The image I got this morning, while I was inspired by this text, was precisely a broken mirror, broken on the floor, and in the middle of these fragments a small pearl with a faint golden light.

Hands slowly touching this pearl, this small representation of who we are ...

As I said at the beginning of the text, it may seem cliché, but if we do not become fragments, we may not be able to realize how much we are mistaken, we delude ourselves into thinking that we are this, or that.

I also commented on the question of age and maturity, however, we also know that some people, even at a more advanced age, insist on the same paths, the same processes, or stick to what they "are", without trying to move forward. They are stagnant because they think they have arrived somewhere, when the reality is quite different.

It is a complicated, delicate, individual process.

Each one goes through his learnings, each one has his own ways and tools. He perceives what speaks to his interior, which dialogues with his Soul. However, I think that some processes are very similar for everyone, and fragmentation is one of them.

For me it is a very interesting process, pleasant, painful at times, but it makes me smile when I see how much, in my innocence, naivete, “childlike” thinking, I had thoughts and “certainties”, and to face the new learning has been something very good.

So we value each moment of “existential crisis”, each slip, each moment when we come across situations that show us how wrong we were.

There is a whole process of scientific enlightenment, there is a magical process, there is a psychological process, and there are many, many others ...

The point is really not having a longing for results, finding your rhythm, trying to be firm to keep it going, moving on.

Discipline, dedication and lightness.

I think of lightness because we need that subtlety to be able to deal with everything, in the best possible way, in the most balanced way. Having lightness we can flow with what should be and not with what we just want it to be.

Love is the law, love under will.

Soror Ὑπατία





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