NUIT E HADIT - Um Estudo da Imanência e Transcendência
Faze o que Tu queres há de ser tudo da Lei.
O Livro da Lei revela as forças universais e sua criação através de uma linguagem iniciática, principalmente através das divindades Nuit e Hadit.
A natureza destas divindades é explicada no Livro da Lei. No Capítulo I, Nuit fala da sua: “Esta é a criação do mundo, que a dor da divisão é como nada e o prazer da dissolução, tudo”. O verso anterior explica: “Pois Eu estou dividida pela causa do amor, pela chance de união”.
Segundo Nuit, o universo seria como uma espécie de pares de opostos. A dualidade é a própria razão de criação do mundo. E a dualidade pode ser vista por diversos prismas: Nuit-Hadit, Tempo-Espaço, Matéria-Energia, Homem-Mulher, Nós-Eles, Eu-ego. Sendo essa divisão a essência da natureza do universo, na qual Crowley traduziu em uma fórmula numérica: 0=2.
Essa percepção metafísica da natureza pode ser analisada através dos conceitos de Imanência e Transcendência, que é a forma de como é percebido a atuação da divindade no Cosmo.
Facilmente aproximamos os conceitos apresentados no Livro da Lei para uma divindade imanente. Crowley comenta que esse antigo conceito de Deus se relaciona com a tese mágica que “Todo homem e toda mulher é uma estrela”. Em todo lugar existe um foco de luz. Esse conceito se aproxima do Panteísmo.
O panteísmo enfatiza a expressão religiosa do sentido da imanência da Divindade. Ela é a substância original e tudo o que existe é uma manifestação dessa substância. Sob esse prisma, Nuit e o Hadit são uma só coisa. Não existe uma diferenciação de uma divindade transcendente, ela seria imanente ao universo. Nuit-Hadit é o universo. Nas religiões orientais, bem como no sufismo islâmico e nos Vedas hinduístas, este conceito aparece claramente expresso. Spinoza afirmou que Deus é uma manifestação e não apenas uma causa primeira. Os imanentistas defendem que a causa da mudança e transformação das coisas está dentro das próprias coisas. Nada pode ser ordenado para um fim se não existir nele certa propensão para esse fim.
Em oposição ao panteísmo há o conceito de teísmo, conforme a doutrina do cristianismo ortodoxo, Deus é ato puro, absolutamente perfeito e sem possibilidade de mudança. “Eu sou aquele que é”, isto é, o Ser absoluto, Motor imóvel de Aristóteles e Aquino. Ele é transcendente ao mundo criado. Ou seja, uma criação saída do nada, Big Bang, “ex nihilo”. O teísmo sustenta a tese da causalidade. Em Thelema, poderíamos dizer, que Nuit é a causa de todas as coisas, embora não seja inerente a elas. Nuit e Hadit são diferenciados.
Os transcendentalistas colocam no exterior das coisas o princípio ordenador da realidade. As três religiões do mundo ocidental, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo são ortodoxamente teístas e transcendentes. A partir do monoteísmo do judaísmo, Deus seria uma força que se expressa individualmente. Deus é uma pessoa, um pai celestial para quem se suplica e reza. O credo católico é teísta, o culto cristão está ligado à oração direta a um Deus pessoal. Na oração pede perdão, súplica e graça, e nessa crença em Deus pessoal, não é possível aceitar o panteísmo, pois existe a dificuldade de dirigir suas orações ao universo indiferente e impessoal – quase niilista.
Para o teísta, o panteísmo não é capaz de lidar com a maldade da matéria. Pois se tudo o que existe tem uma natureza divina, manifestação da perfeição, como explicar o mal sendo divino. No teísmo, o homem sendo inferior a Deus, ele é um pecador que necessita da salvação desse Deus, no panteísmo não existe necessidade dessa relação.
O envolvimento panteísta com a divindade seria uma expressão única de uma experiência mística ou conhecimento espiritual único. O místico acredita que passou por essa experiência, que não importa a natureza dessa experiência ou explicação racional, sua preocupação o conhecimento que liga o indivíduo à fonte deste conhecimento.
"(…) se Deus é ser, a criatura é nada; se a criatura é ser, Deus é superior ao ser e infinitamente não semelhante de tudo quanto existe". (Mestre Eckhart)
Existe uma terceira via, Panenteísmo é a teoria que o universo está contido na Divindade, mas a Divindade é maior do que o universo. A dualidade encontra o monismo inerente das coisas. É diferente do panteísmo, a crença de que Deus ou os deuses e o universo coincidem perfeitamente. No panenteísmo, todas as coisas estão na divindade, são abarcadas por ela, identificam-se (ponto em comum com o panteísmo), mas a divindade é, além disso, algo além de todas as coisas, transcendente a elas (ponto comum com teísmo), sem necessariamente perder sua unidade (ou seja, a mesma divindade é todas as coisas e algo a mais).
Desta forma, a existência do mal no mundo explica-se pela manifestação da realidade em graus. Sem deixar de ser una, achando-se os graus inferiores absorvidos nos graus superiores. Esse é o paradigma da emanação ou potências sucessivas dos aspectos divinos representados de forma hierárquica por ideias arquetípicas ou planos de consciência contidos dentro de si mesmo. A sequência dessas emanações forma a alegoria da Árvore da Vida pelos Cabalistas ou Éons pelos Gnósticos.
“Na esfera Eu Sou em toda parte o centro, tal qual ela, a circunferência, em parte alguma é encontrada” (AL II:3).
Hadit então é diferenciado de Nuit mas encontra-se dentro nela, como uma mãe grávida. Isso traz o paralelismo ao sinal de NOX – Mater Triumphans.
Amor é a Lei, Amor sob Vontade
Por Frater IAO136
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