O que Vi(vi) de Thelema (principalmente a A.'.A.'.)
Muito comum depois de passar por um tempo de intensa experiência e e investigação
voltarmos a consciência para uma minuciosa investigação do que foi feito deveras ou o que
foi feito de Vera? Pouco mais de uma década e meia em contato com a filosofia de Thelema
e mais precisamente com a Santa Ordem, vou deixar aqui algumas opiniões de cunho
extremamente pessoal e de forma alguma representa posição oficial da Ordem nem da
linhagem que pertenço.
1 - Thelema e a Santa Ordem são pra quem gosta de estudar, de investigar, de pesquisar
fundo, se por acaso você não gosta, ou não está pronto para mudar o hábito recomendo
que procure outra tradição. Por mais que exista a necessidade de práticas e registros
diários, os roteiros e grades curriculares dão um embasamento para que tais práticas sigam
um certo caminho ou uma direção por mais que não fique claro para o praticante (o que leva
à segunda questão).
2 - Sozinho você perderá tempo nos muitos meandros e falsas migalhas de pão deixadas
de propósito pelo Crowley. Existe um certo glamour ocidental pelo autodidata, por aquele
que é um self made Adepto. Lamento informar que a iniciação não ilumina por si mesma, ou
não promove a liberação de sofrimento por si mesmo, há a necessidade de uma
transmissão para que a Gnose ocorra, foi assim que o sistema foi desenvolvido -
Parampara. Todo o resto é tapar o Sol com a peneira, e leva a uma perda de tempo
enorme. Aspiração nunca pode ser uma vaidade, quem quer fama e sucesso vai para o
teatro ou para o mercado financeiro.
3 - Crowley e tantos outros luminares eram pessoas do seu tempo e a grande maioria
gringa, sem vivências e idiossincrasias nossas, então ponha um espelho na sua frente e
após isso ponha se no seu lugar, na América do Sul, no Brasil , no seu estado, cidade,
bairro, rua e domicílio, é um excelente ponto de partida. A primeira iniciação válida é sair da
casa dos pais. O Sol brilha e banha indistintamente todo o sistema com sua luz e calor,
seguindo sua órbita sem colisões, crie sua órbita, ou pelo menos observe a sua procurando
um ponto de vista do sol.
4 - Um dos maiores problemas às vezes são os outros Thelemitas, Thelema não é sectária,
discriminatória, ela é pró Liberdade de ação, de pensamento, de sentimento (pro inferno
com a hoje repressiva Liberdade de expressão) então as proibições e regras estapafúrdias
sempre emanam de pessoas (instrutores, superiores, mestres de loja e etcs) o axioma é
Faze o que tu queres! Há um problema que hoje percebo que e a ausência de dinheiro, de
taxas, de multas, pode até parecer capitalista, mas pela minha experiência de vida as
pessoas dão mais valor quando coçam o bolso, nesse ponto as ordens coletivas tendem a
atrair gente mais responsável.
5 - O sistema funciona, agora ele vai te quebrar por inteiro, como qualquer sistema sério de
autoconhecimento, o mergulho é sempre um ato de coragem, muitos esperam as águas
turvas e revoltas mas geralmente o primeiro impacto é o da testa numa poça de água suja
mesmo, falar mais do que isso seria revelar grandes spoilers, mas um parâmetro é: está
super confortável na caminhada? Tem algo errado! Não se trata de culto a dor e ao
sofrimento, muito pelo contrário, trata-se de coragem mesmo, é muito difícil abrir mão,
porém só um certo nível de desprendimento a mudança se torna estável e perpétua. Não se
trata de desistência ou renúncia, e sim desapego seguro de que um estado de consciência
se reflete no atual estado de vida e isso infelizmente não se força e não se apressa.
6 - Iniciação está mais para abrir mão do que ao controle, está mais para uma percepção do
micro para o macro e não do externo para o interior. Não há buscas por verdades sem uma
boa inspeção de nossas realidades e realizações. Não há luz reluzente de ouro sem a
experiência das trevas, nem muito menos a experiência do "nada" sem ter saboreado e
entendido "o bom" e "o mal". Tudo aquilo que imaginamos existe em nossa imaginação, e
tudo que sentimos precisamos ordenar em nossa órbita. Toda iniciação é uma espécie de
reconciliação entre aquele que busca e aquilo que permanece, os incapazes de despir se
nem começaram a buscar. Uma última sugestão seria, tenham calma e amor próprio, sejam
gentis consigo mesmo, porém não se enganem, a viagem é difícil.
Coragem!
Hoor
Referências bibliográficas:
Liber 61
Liber 13
O Lado B da Besta - O coração do Mestre
A Canção Perdida de Marcelo Ramos Motta
Comentários
Postar um comentário