O Materialismo Espiritual em tempos de I.A.
Faze o que tu queres há de ser tudo da lei.
Caras amigas e amigos, venho
neste artigo que serve quase que uma continuação de meus estudos diminutos
sobre Cabala com um ponto de vista mais thelemita sem deixar passar ao largo as
experiências proveitosas do passado e ignorando as nefastas. Venho tratar de um
tema muito complexo para quem está realizando um trabalho sério espiritual
sobre si em direção àquela natureza que exala os poderes e realidades do teu
próprio ser. Pois bem, como já vimos anteriormente não há truques de cartas,
embora o Tarot esteja aí como maravilhosa ferramenta pictórica, potente em
imagens e bem leniente em significados e significantes - mas por que? Por que
estou começando logo por aí? Eu adoro o Tarot mas descobri nos anos mais
distantes do meu treinamento que sempre que tirava uma carta ou um jogo para
mim, eu tinha tendência em ser mais “bondoso” comigo mesmo, mais
"trapaceiro", menos “trágico” com certeza menos “taciturno” e bem
menos “macambúzio” e tudo “dentro” das possíveis e múltiplas interpretações,
óbvio que naquela época eu ainda achava que me enganava um pouco, óbvio que
logo depois eu sabia que não me enganava nem um pouco, passou um tempo maior
até que eu parasse de me enganar. Eis um ponto:
- Quanto tempo você é
capaz de se enganar? e além de quanto tempo custa para simplesmente pararmos de
nos enganar?
A vida é como um sonho, um mundo cheio de apegos, aversões, vacilações,
comodismos e também alegrias, prazeres tudo o mais, é como fantasia,
aparece como real, enquanto tudo que está na nossa mente nesse momento é
real, porém tudo some quando
despertamos, sonhos, certezas, sensações. Agora estou ficando cada vez mais sorumbático porém
deixe-me continuar com alguns impactos: A ação não pode destruir a ignorância porque a primeira não
está em conflito com a
segunda, elas não se harmonizam em tensões (que é o que gera a vida) ela são
consonantes entre si (ou seja, soam juntas e até muito
bem). Logo somente o Conhecimento é capaz de destruir
a ignorância, óbvio que esse Conhecimento em maiúscula acompanha
uma Conversação em maiúscula também, mas o que é isso?
Isso é um processo!
Um processo de muita ação (direcionada) muita inércia (tamas) muito
equilíbrio (satva) muito ritmo (rajas) e claro aí entra o mais difícil
- Despir se![1]
não se apegar nem ao chinelo do seu pé - notem de que adiantam Lamas, Magister Templi, Adeptus,
Summum Rex, Papas e
polpas que não conseguem manter cinco minutos de uma conversa sadia, sem se
sentirem na necessidade de
expor seu crachá, sua insígnia, enfim seu penduricalho místico tal qual um cala a boca! Não
adianta, a sede de poder, fama e glória, não pertencem ao mundo “espiritual” e sim ao mundo
do entretenimento (que aliás é muito mais divertido). Aliás pensem um
pouco, muito se fala atualmente em Verdadeira Vontade e deixo aqui uma
alfinetada, verdadeira vontade que se refere a afazeres desse mundo de discos
(isto é físico), que morre junto com o CPF (ou CNPJ) não é tão
verdadeira assim né? Mas isso é outro papo.
Thelemitas, desconfiem de títulos, desconfiem de exclusividade e
complexos de Highlander (o filme onde só poderia haver um imortal) num
mundo cada vez mais plural, pobre e insano.
Notadamente que pouco se fala sobre Conhecimento e Conversação, primeiro
que isso não é auto ajuda, segundo não é conversa para iniciantes, fica
um papo quase livre associação, e as coisas não são assim, note que exploro em demasia
esse assunto num ensaio anterior
“Sobre Iniciação e Fantasias”1 onde aqui replico uma
parte: “Toda iniciação é pessoal, e isso é ponto pacífico, mas toda fórmula
de iniciação é impessoal e logo, universal. Há uma geração de simbolismo,(...)
representa um símbolo de iniciação universal, ou seja, aquilo que de fato é uma verdadeira
chave!” E aqui podemos afirmar que não há truques, há trabalho, refinamento, paciência e
transmissão. Muita paciência, me parece que a pressa ganhou mais importância que o
próprio caminho. Entretanto falham aqueles que insistem no auto aperfeiçoamento do ego como
ente principal da equação.
O ego é essencialmente vazio - “O
problema é que o ego consegue converter qualquer coisa para seu próprio uso,
inclusive a espiritualidade”
- Quanto tempo você é capaz de
se enganar? e além de quanto tempo custa para simplesmente pararmos de nos
enganar?
Noto à medida que avança as décadas cada vez mais cursos, ebooks,
e-learnings, e-lifes, oferecem uma miríade de produtos e vendas claros de autoconhecimento
e iluminação, a intenção é lançar vistas sobre o que a ilusão do comércio
excessivo sobre a espiritualidade e a aura do capitalismo que gera naquele
pagante consumidor, uma vez que possua o curso, sente se dono, proprietário e
por consequência praticante profissional daquela informação ali? Será que é
rápido e fácil como vendem esses cursos? Conheço algumas pessoas que de fato acreditam
nisso, coachs do sagrado quântico tântrico qliphótico quimbandeiro e pós
aeônico, geralmente repetem mantrans como: “Tão simples como a vida, busco a
simplicidade” daí ninguém sabe me responder quão simples são a mitose e meiose? De novo afirmo que até as coisas mais simples,
envolvem um processo que é mais complexo do que auto afirmação, uma boa dica é:
se você está apegado a alguma forma seja qual for nesse contexto, tente trazer
a atenção para o momento presente, geralmente a mente e os sentimentos vagueiam
entre passados nebulosos e futuros incertos.
Vindo agora para nossas bandas vejo que no meio Thelemita há uma ênfase no emprego do intelecto no relacionamento com o mundo.
Academicismos travestidos de “Iluminismo Científico" que sempre
se organiza em grupos que servem como alavancas, desenvolvidos por ideologias e
certos maneirismos
geralmente daqueles que manipulam os menos experientes, tô mentindo? Ou então vemos o Egão
Senhor da Mente, ou Sabido Ego Guardador aquele que impera quando usamos
disciplinas espirituais e psicológicas como meios de conservar a consciência
que temos de nós mesmos, nos agarrando e ancorando ao senso de eu. Drogas,
rituais da goécia, ioga, meditação, transes, várias psicoterapias — tudo
pode ser usado com essa finalidade.
O ego é capaz de converter
tudo para seu próprio uso, inclusive a espiritualidade. Somente um iniciado
experimentado pode guiar aquele intermediário nesse ponto.
Porque nesse ponto: há corpo,
há assentamento, há uma relação de transmissão que fuja só do mental ou dos
psicologismos muito benéficos para nos fantasiarmos do que ainda não somos,
nesse ponto o jovem místico se perde ou no bla bla de pesquisas inócuas ou em
não sabe decodificar suas emoções, sentimentos e o contato com a geração
de simbolismos, essenciais aos próximos passos.
Não posso dizer abertamente o
que se refere ao Conhecimento e Conversação porém afirmo que não se trata da
ideia de sucesso nem da
preocupação neurótica que nos impele a fantasiar sobre um controle da Natureza. O ego ambiciona
assegurar-se e entreter-se, buscando evitar toda e qualquer irritação e todo trabalho duro. Desse
modo, agarramo-nos aos
nossos prazeres e propriedades, tememos mudanças ou forçamos mudanças,
tentamos criar um ninho ou
um playground (geralmente de um alto cargo ou grau espiritual).
Nesse ponto que chegamos onde temos jovens buscadores realizando seus
trabalhos de pesquisa com plataformas de Inteligência Artificial, ouçam
o nobre conselho deste bardo: Pare, só pare, vá à praia, vá ao shopping.
Quanto tempo você é capaz de
se enganar? e além de quanto tempo custa para simplesmente pararmos de nos
enganar?
No caminho há dor mas não há sofrimento, há prazer mas
não há comodismo, há experimento mas não há vício, há inocência mas não há
esperança, há gentileza mas não há complacência, há luta e há descanso e sempre
haverá alegria nas coisas simples.
Força e fogo são de nós.
Hoor
1 https://blogdaabadia.blogspot.com/2022/03/sobre-iniciacao-e-fantasias.html
A Canção Perdida - Marcelo Ramos Motta - Coletânea - Editora Abadia Het Heru
Artigo - Despir se - Soror Ignis - Blog da Abadia - link no texto
Artigo - Sobre Iniciações e Fantasias - Frater Hoor - Blog da Abadia - link no texto
Cutting Through Spiritual Materialism - Chögyam Trungpa - Shamballa Classics
Ātma-bodha - Adi Shankara
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