Ego. Por tantas vezes ele se apresenta, nas mais diversas formas, e não é inimigo. Entretanto, venho observando algumas coisas que tem me feito refletir. Muitas vezes comecei a ver o quanto o ego é quebrado, repetidas e repetidas vezes, principalmente quando iniciamos alguns estudos, como Thelema.
São coisas que aos poucos vão mexendo com nossos pensamentos, sentimentos e emoções, e por muitos momentos, se não estamos atentos, caímos em algumas armadilhas. Uma delas é a exacerbação do ego, que por mais que alguns digam que não ocorre, é perceptível que sim, é um fato real.
Não tenho a intenção de fazer generalizações, pois cada indivíduo é um indivíduo, e se assim não fosse, o “todo homem e toda mulher é uma estrela” cairia por terra, porém, é interessante observar que conforme estudos e leituras avançam, num primeiro momento, alguns tendem a se sentir no cume da montanha do conhecimento, para em seguida, escorregar ladeira abaixo. “E tá tudo bem...”, como diz uma amiga.
Esses altos e baixos são momentos que nos trazem muito aprendizado, e é nesse ponto que quero chegar. Ocorrendo o ego exacerbado, vem a vaidade, a soberba. Altos papos de achismos travestidos de uma “sabedoria” artificial. E quando as quebras do ego ocorrem, são dolorosas, principalmente quando não se está preparado para tal, ou não ocorre a aceitação disso.
Fato observável é o reconhecimento de estar errado, ou de saber bem pouco, ou até mesmo de não saber, o entendimento e a aceitação desses momentos. Não é um “se diminuir”, num pensamento ultrapassado de “sou um nada, um pecador, e preciso de salvação”, mas é uma compreensão de que não se está como senhor do absoluto conhecimento, simplesmente porque começou a ter acesso a determinadas chaves que podem abrir certas portas, que levam a novos caminhos e novas portas, e assim por diante.
O fato de se ter acesso ao sistema que nos ferramenta, traz um senso até maior de responsabilidade, pois não somente um aprender conhecimento, e sim apreender e ter a aplicabilidade do mesmo. E isso, inclui ter a neutralidade de passar pelas quebras do ego, que sim é fracionado, fragmentado inúmeras vezes. Se reconstrói, se reergue, se exacerba, e se quebra de novo.
Penso que o importante é que a consciência desses acontecimentos esteja presente, para que se receba aprendizados disso. Para que não seja uma dor, não seja um sofrimento, mas sim uma observação e de fato uma lição tirada.
Em um vídeo que vi recentemente, houve uma fala que me recordou algo que sempre penso a respeito das dificuldades que enfrentamos no dia a dia, e no desejo que muitos tem de se isolar para poder ter uma melhor percepção daquilo que estão lidando no campo da magia/ocultismo, etc. Se isolar seria de fato muito bom, ir para um mosteiro no alto de uma montanha, uma cabana no mato, porém haveria a falta do desafio do ego, que muitas vezes é ocasionado pelo que está em nosso entorno, seja nossa família, vizinhos, chefe do trabalho, brigas de internet, etc. Se formos pensar, seria muito “fácil” lidar com muitas coisas estando isolados, e uma possível evolução espiritual, prática, ou o que quer que seja, porém a lição de cada coisa que nos espeta, que nos provoca, que nos causa vaidade, ficaria um pouco atrasada, e são essas, lições valiosíssimas.
Percebo no estudo do sistema existente em Thelema um acesso as mais diversas áreas, e ele nos instiga e estimula a ir atrás de outras coisas que nos interessam e fazem parte desse meio. Também percebo que adquirir conhecimento vai nos tornando seres um pouco mais conscientes, com um arcabouço de coisas textuais e imagéticas que nos permite fazer correlações e entrelaçamentos dessas coisas, tanto das que já possuímos quanto das que entramos em contato quando aprendemos algo novo. Seja para reforçar ou refutar, para agregar ou descartar. E que um dos maiores aprendizados que tiro disso, é justamente o cerne desse texto, o ego, exacerbado e o ego quebrado.
Novamente aponto que quando falo do ego quebrado, não falo de um processo que deva ser doloroso (embora muitas vezes seja), não deva ser uma penitência, e nem algo que “todos devem passar”. Minha observação é para isso, para que ocorra uma auto-observação, e a percepção do quanto em nossa vaidade cega, realizamos nossa pequenez diante de um mundo vasto de conhecimento que existe e nós só estamos arranhando a sua superfície. Ninguém sabe tudo, ninguém é o senhor absoluto do conhecimento. Podemos sim, nos sentir conhecedores de determinadas áreas, em determinados graus de aprofundamento, e falar com propriedade sobre aquilo. Ter orgulho disso, por que não? Mas percebermos que sempre há o que aprender, apreender e aplicar.
Sobre um autocontrole, vejo a importância de reconhecer que devemos seguir em uma direção. Se em nosso dia a dia, nossas palavras, ações e pensamentos não estiverem nessa mesma direção, nessa mesma vibração, nós nos veremos tentando conduzir uma carroça com três cavalos, cada um querendo ir para um lado diferente. Nesse caso talvez seja mais fácil descer da carroça e desatrelar esses cavalos rebeldes e puxar nós mesmos esse carro. Vai dar muito mais trabalho, vai ser pesado, mas talvez traga uma boa lição. Deixar os cavalos descansarem, os alimentar, e ver que quem precisa conduzir somos nós, com as rédeas nas mãos, nos impondo no comando para seguir essa jornada da maneira como precisa ser seguida.
Então, sim, nosso ego é quebrado inúmeras vezes quando decidimos iniciar estudos, práticas. Quando optamos por fazer algo, por justamente mexer com coisas que estão em nossas profundezas. E principalmente quando se está disposto a passar por isso. Quando há a compreensão que iremos passar por isso e saber reconhecer e aceitar esses momentos.
Vejo até de uma forma irônica, e isso é um relato pessoal, o quanto observamos os outros e pensamos: “é, ainda vai ter esse ego quebrado”. E essa observação não é por pura vaidade e soberba de me achar melhor, mas é ver refletida nos outros, situações que eu mesma já passei, e faço essa reflexão, não com um senso de: “ah vai se dar mal porque logo vai ter esse ego quebrado”, mas sim de sentir que também já estive nesse lugar, me senti assim, mas tive minhas lições aprendizados porque me vi aberta e disposta a passar por eles, e nesse ponto aprecio desejar que os outros também possam estar abertos para receber suas lições. E me sinto uma anciã, como quando via pessoas mais velhas dizendo para meu eu criança e adolescente: “ah o tempo ensina, você vai ver no futuro, etc, etc”, aquele velho discurso que nós, enquanto em nosso ímpeto imaturo e juvenil já achamos que sabemos de tudo, e com o passar do tempo vemos que é verdade, e nos tornamos nós a usar das mesmas falas, porque de fato passamos e sentimos. SENTIMOS. Grande segredo de vários aprendizados, não somente o ler, o adquirir conhecimento racional, mas de fato sentir tudo isso. E aí olhamos, até para nós mesmos com a frase que muitos odeiam: “eu avisei”.
Ou seja, temos nossos sentidos intuitivos nos apontando caminhos, nos mostrando, inclusive que estamos “nos achando soberanos”, mas ou escolhemos não ouvir, não enxergar isso e nós nos fechamos em nossa redoma de falsa sensação de sabedoria, ou até percebemos mas preferimos insistir, e aí quebramos a cara. Que bom, se pudermos encarar essa queda rindo de nós mesmos.
É normal o sentimento de “poder” que Thelema as vezes traz para alguns, a sensação de empoderamento mesmo, de se achar melhor que outros, mas talvez uma grande lição esteja aí, em perceber que, por ter esse acesso, a responsabilidade também é maior, afinal, já não caminha mais na sombra da ignorância. Já teve um vislumbre de fora da caverna, e as ações começam a ser pautadas dentro de uma fagulha consciente do que se quer, do que se busca, do que aplica relacionado ao que vai aprendendo.
À medida que vamos aprendendo, e estamos no centro de um círculo, a linha que o limita também amplia, logo vamos expandindo nosso horizonte de forma infinita, constante.
Nebulosa de Órion“Na esfera Eu sou em toda parte o centro, tal qual ela, a
circunferência, em parte alguma é encontrada.” (Liber AL, Cap. II, v.3)
Vamos tocando esferas de
conhecimento, recebendo seu influxo, nos abrindo como receptáculos que
transbordam para outras esferas, por outro lado temos a analogia da xícara de
chá, se estiver cheia, muitas vezes se achando plena de si mesma, não há como
ser preenchida do que é novo.
“Seres humanos foram dotados
apenas de inteligência suficiente para ver com clareza o quanto inadequada é a
inteligência quando confrontada com o que existe.”
Albert
Einstein.
Há muito o que se aprender,
sempre e sempre. Sem o ego exacerbado, e sem o ego falsamente humilde. Apenas
um companheiro de jornada, que se faz necessário.
neferaset@abadiadethelema.com
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