O Véu de Paroketh
O Véu de Paroketh
Por Euclydes Lacerda de Almeida
Todos os Sistemas de Iniciação, sejam maçônicos ou
rosacrucianos, mágicos ou filosóficos do Antigo Aeon estavam profundamente
calcados sobre o Esquadro ou algum outro símbolo equivalente, fundamentado pelo
conceito da supremacia masculina. Assim, lendas cujas bases estavam nas figuras
míticas de Jesus, Cristo, Osiris, Salomão, Hiram e outros tantos ícones
patriarcais, tiveram vez na fértil imaginação do homem como, cada um a sua vez,
exemplo máximo e perfeito do ideal humano.
O Novo Aeon, o assim chamado Aeon de Horus, baseia-se
num determinado senso, no Círculo, a Deusa, a Mãe cujo símbolo ou manifestação
é o filho. Assim novas interpretações advindas de um diferente ponto de vista
brotam do entendimento da natureza das coisas.
Desta forma, muitos dos conceitos outrora tomados como
verdadeiros, hoje, sob a luz do avanço das pesquisas, tanto no campo
tecnológico quanto filosófico, bem como devido às "influências" do
Novo Aeon, assumem novos significados, mais adequados aos dias atuais.
Os aspirantes à Arte Real devem estar cientes que os
mais antigos mistérios eram de natureza física e não metafísica. Existe uma
versão exotérica e uma esotérica a respeito deles, análogos à Lei escrita e
oral dos Judeus. Contudo, ao contrário do que se supõe usualmente, a versão
metafísica é a exotérica e não o inverso. Isto pode ser concluído pelo estudo
do Décimo Sétimo capítulo do Livro dos Mortos dos Egípcios, um dos mais antigos
textos iniciáticos existentes. Ali, acompanhando o texto do Livro, aparece,
explicando o escrito segundo a tradição, o segredo, a Sabedoria Oculta contida
sob os véus, referindo-se à origem física dos abstratos conceitos contidos no
Livro. As questões espirituais são explanadas em termos físicos ou, mais
precisamente, filosóficos.
E que me desculpem aqueles que consideram impróprio a
revelação dos mistérios a que julgam necessário manter o Véu de Isis intocado;
eu reitero o fato de que os Mistérios e a Verdadeira Gnose são,
predominantemente, de natureza psicossexual. Além disso, as “chaves” do ocultismo
prático, sejam relacionadas à magia ou ao misticismo, podem ser compreendidas
pelo intelecto meramente através do estudo, mas é somente nos Planos Internos
que o efetivo uso delas é revelado. A não ser que os referidos “contatos”
nestes planos sejam estabelecidos de modo adequado, nenhum acúmulo de leitura
desvelará os mistérios que se mostram indecifráveis (velados) à análise
puramente intelectual.
Aqui tentarei lançar alguma luz sobre estas questões.
Tentaremos também demonstrar algumas relações entre a Qabalah e o Sistema
Maçônico e de como este tem como fundamento os preconceitos daquela.
Algumas portas do Esoterismo podem ser abertas pelo
cuidadoso estudo e vivência dos textos sagrados das religiões do mundo se, no
devido lugar, soubermos usar as apropriadas chaves.
Boa parte das chaves do sistema esotérico elaborado no
Ocidente são encontrados na Qabalah, causa-nos espécie verificar, após alguns
anos de estudos e práticas nesse terreno, que algumas importantes passagens do
Novo Testamento têm sido negligenciadas pela maioria dos Esoteristas. Mais
parece que elas foram convenientemente “esquecidas” por parte destes, para os
quais tais chaves se revelariam assaz comprometedoras.
Uma dessas esquecidas chaves nós encontramos em Mateus
27, 51: “Eis que o Véu do Templo se rasgou em duas partes de alto a baixo:
tremeu a terra e fenderam-se as rochas”
Suponho, nada mais natural que, diante do versículo de
Mateus, várias questões afloram:
Que véu é este?
Por que ele se rasga no exato momento em que “Jesus” expirou
na cruz?
Qual a relação existente entre os dois eventos?
Partindo da premissa de que a Bíblia, como todo Livro
Sagrado, contém ensinos iniciáticos na forma de parábolas, nada mais natural do
que a necessidade delas serem interpretadas corretamente, para que possamos
obter as devidas chaves dos ensinamentos ali encerrados.
Existe na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, várias referências ao Véu do Templo, como poderemos apreciar nos
seguintes exemplos:
“Fez também um Véu de estofo azul, púrpura e carmesim, e
de linho fino retorcido.” (Êxodo, XXXI, 35).
“Também fez o véu de estofo azul, carmesim e púrpura, de
linho fino” (Crônicas, III, 14).
A esta altura nos vem a lembrança, neste contexto,
aquele véus retirados de Salomé, ao executar a Dança dos Sete Véus (um
verdadeiro “strip” ritualístico, muito parecido com aquele outro vivido por
David, ao dançar nu diante da Arca Sagrada), ante os extasiados e desejosos
olhares de Herodes. Atenção também deve ser dada quanto ao preço cobrado pela
fabulosa dançarina e seu padrasto (Herodes), isto é, a “Cabeça de João
Batista”.
Embora muitos possam contestar, e estão em seu direito,
há uma justa identidade entre os dois eventos, a saber: o Véu do Templo e os
Véus de Salomé, Eles apresentam a mesma chave dita de modos diferentes. Com
alguma paciência, somadas às novas pistas aqui oferecidas, e evidência desta
identidade saltará aos olhos levando-nos a atingir o coração do Arcano.
Explicando: Os Sete Véus da dança de Salomé correspondem
aos Sete Planos (No Apocalipse de São João, eles correspondem aos Sete Selos e
as Sete Trombetas) que o Iniciado terá que descerrar para ver a Verdade nua e
crua à sua frente: então ele perderá a cabeça, ou seja: seu eu inferior, seu
ego, etc. (Aos maçons indico o Sinal do Primeiro Grau).
Relembrando o que já foi dito anteriormente, causa-nos
surpresa observarmos que a especial referência de Mateus 27: 51, totalmente
relacionada à morte de Jesus, quando abordada, tem, recebido interpretações tão
simplistas que, não raramente, atingem o disparate como, por exemplo, dizer que
o Véu do Templo teria sido rasgado pro Jehovah tomado de ira ante o cruel
assassinato de seu filho.
Na verdade, o acontecimento descrito pelo Novo
Testamento refere-se de modo velado, isto é, ao ápice de uma das mais
importantes fases da Iniciação.
Temos conhecimento, através do historiador Flávio
Josefo, que o Templo de Jerusalém continha três grandes divisões e que a
terceira delas, a mais interior – onde repousava a Arca Sagrada – recebia a
denominação de Santo dos Santos e estava exclusivamente consagrada à Divindade
(Jehovah, no caso dos judeus). Esta terceira e secretíssima divisão era o local
onde somente o Sumo Sacerdote penetrava, uma vez por ano, para ali, “sob véus”,
pronunciar o Nome Indizível (IHVH).
Esta câmara estava separada da anterior por um Véu, cujo
nome é Paroketh.
Toda a edificação do Templo está baseada em certos
cânones sagrados, os quais, por sua vez, encontravam-se preservados pela
tradição da Santa Qabalah. Portanto, nada mais óbvio do que recorrermos a esta
Ciência e penetrando em seus mistérios, colher dali as jóias e os raros
perfumes que ela sempre oferece aos que dela se aproximam com respeito e
admiração.
Vejamos, assim, se de fato existe, tendo como base a
Santa Qabalah, alguma relação entre o “rasgar do Véu” e a “morte de Jesus”, e
qual seria essa relação, ou melhor: o que aí se encontra velado.
Segundo um bem conhecido esquema da Qabalah, a Árvore da
Vida divide-se em três tríades: Superna (Kether, Chokmah e Binah), Central
(Chesed, Geburah e Tiphareth) e a Tríade Inferior (Netzach, Hod e Yesod).
Pendente a essa última encontramos o Reino (Malkuth, a esfera da Terra), ponto
de onde, pelo processo iniciático, o homem inicia sua jornada de ascensão às
Esferas mais elevadas.
Vejamos agora qual é esse Caminho:
Iniciando em Malkuth, a primeira Espera, o Reino,
ascendendo verticalmente encontramos a Esfera seguinte, Yesod, o Fundamento.
Logo acima está Tiphareth, a Beleza, a terceira Esfera,
a Esfera do Sol, centro e coração da Árvore da Vida, e também o primeiro
objetivo maior da Verdadeira Iniciação, isto é, a grande consecução espiritual,
fruto de nosso encontro com o Eu Superior. Em termos Thelemitas, o Sagrado Anjo
Guardião (SAG). O Sagrado Anjo Guardião recebe, em outros Sistemas que não
Thelemitas, denominações diversas, tais como: Adonai, Centro Crístico,
Augeoide, Osíris, etc. O Sagrado Anjo Guardião não é exatamente o Eu Superior,
mas a analogia é válida na falta de outra melhor. Porém, melhor seria dizer
“Centelha Individualizada da Divindade, o Deus Oculto em todo homem e mulher.
O trabalho de ascensão pela Árvore da Vida, quando se
dá, seguindo o “Caminho da Flecha”, é constituído pelos Caminhos do Tau e
Sameck, respectivamente o 32º e o 25º (que correspondem aos Atus Universo e
Arte. E entre esse dois caminhos está a Esfera Yesod. O caminho de Samekh é
“cruzado” pelo Caminho de Phe (27º - A Torre Fulminada) que une, por sua vez, a
Hod (Esplendor) e Netzach (Vitória). Esses Caminhos formam a Cruz por onde,
forçosamente, passará o Aspirante em direção a Tiphareth. Em outras palavras,
significa que ele será “crucificado”. Mas não é somente esta “crucificação” que
se interpõe entre ele, que está em Malkuth, e seu Centro Crístico.
Aqui também encontramos outra chave: “Caminho da
Flecha”: uma flecha necessita de um “arco” para ser lançada em direção ao seu
alvo. Onde está esse Arco?
Como dito por Dion Fortune “O Caminho da Iniciação segue
as espirais da Serpente da Sabedoria na Árvore; mas o Caminho da Iluminação
segue o Caminho da Flecha lançada pelo Arco da promessa. Qesheth, o arco Isis
de cores astrais que se estende como um alo por detrás de Yesod.”
Notem que a palavra Qesheth (ou melhor, QShTh – tsq0 é
formada pelas letras dos Caminhos 29º, 31º e 32º, respectivamente os Trunfos A
Lua, O Julgamento e O Universo.
“Aquilo que está em cima é como o que está em baixo”:
esse não é um vão aforismo. Ele pode ser aplicado em todos os planos da
existência; conseqüentemente, assim como o Abismo separa a Tríade Superior da
Árvore Sephirótica do restante das Esferas, a Tríade Central, do Equilíbrio,
está separada da Tríade Inferior por uma lacuna, conhecida pelos cabalistas
como o Véu de Paroketh; que, em certo sentido, constitui o próprio Abismo numa
escala inferior.
Então, através do processo iniciático, em direção a
Tiphareth (ou Deus Interno), o Aspirante terá que atingir Yesod – a Esfera da
Lua, ou o Mundo Astral – e passar pelo cruzamento (a interseção dos Caminhos de
Phe e Samekh), “rasgando” depois o Véu de Paroketh que encontra-se logo abaixo
de Tiphareth, e imediatamente acima de Hod e Netzach e entrar, desta forma, no
Santo dos Santos, isto é, a Câmara do Meio (dos maçons), a Câmara do Deus
Interno, muito bem representada na Grande Pirâmide como a Câmara do Rei.
Lá, o Aspirante, agora Adepto, deverá pronunciar o Nome
Inefável, o Nome de seu Sagrado Anjo Guardião, morrendo em sua personalidade
humana, renascendo em uma outra realidade consciencial.
O Iniciado em seu trabalho de consecução tanto mágico
quanto místico, usando o Esquema da Árvore da Vida, irá, aos poucos, ascendendo
aos diversos Planos de Consciência (simbolizados pelas Esferas) através do
Caminho do Meio (ou Pilar Central) que o conduzirá à presença de seu “Deus
Interno” (“Jesus”, Adonai, Osíris, etc,). À medida que este trabalho é
realizado pelo aspirante, os Reinos dos Elementos, um a um, são conquistados. A
abertura ou “rasgar” do Véu de Paroketh é o último obstáculo à destruição parcial
do ego mundano. Essa destruição, um “sacrifício” ao Eu Superior, é conhecida
como a Morte Mística: “Pai em Teus Braços, entrego minha Alma”.
Malkuth, Yesod, Netzch, Hod e Tiphareth somam cinco
esferas: o Pentagrama, os Quatro Elementos regidos, ou dominados pelo Espírito.
Eis aí a Estrela Flamejante dos Maçons, o Símbolo do Homem Divino. A letra Shin
(Espírito) inserida entre as Quatro letras do Tetragrammaton (Yod, He, Shin,
Vau, He) o transforma em Yeschouah, o Adepto . Este fenômeno acontece com todos
os Adeptos que atingiram o Grau Inefável. Percebemos, então, que todo teatro
simbólico representado pela “vida”, “ordálios” e “morte” de “Jesus”, nos aponta
somente numa direção: o esquema Qabalístico de Consecução Espiritual.
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