Sobre Iniciação e Fantasias
Para quem joga ou tem saudades de um jogo coletivo, seja futebol, vôlei, queimada, bandeira, sueca, buraco, dizem até RPG, sempre vai existir o time contra, ou seja: aquela equipe adversária, contrária a sua vitória, porque ela busca também seu lugar laureado ao sol. No contexto das ordens iniciáticas também estão lá os vários times contras, formados por indivíduos "do contra" que se juntam e batem um bolão que aterroriza muitos, mas de novo cumprem uma função, um serviço.
Engraçado, que no contexto de ordem coletiva tudo é treinamento para o ego, e os embates gerados por pessoas e assuntos pessoais (geralmente picuinhas) são um prato cheio para o trabalho, para a coletividade. Numa ordem Thelêmica onde é praxe que reinem
as harmonias das órbitas estelares daquele sistema, esse prato ganha requintes de entrada, prato principal, sobremesa e um bom vinho. Mas, e no contexto pessoal? Numa instrução 1 x 1?
Olha, vou contar nesse tempo que estou em Thelema, mais precisamente instruindo na condição de Neófito, ou seja, uma porta de entrada para Santa Ordem, já tive como instruídos e\ou candidatos, verdadeiros luminares como: Comendadores Rosa Cruz, Maçons Veneráveis, 99o 33o 3o, patriarcas Gnósticos, Soberanos Iniciados do Martinismo e Pai de Santo de Umbanda (que dentre todos estes foi o mais sincero). Minha ideia não é expô-los, mas expor a problemática.
"Papagaio velho não aprende piada nova" (sabedoria popular)
Já diz o ditado acima e sempre me pergunto, se o sujeito, seja de que tradição for, chegou ao final daquela tradição, ordem, trabalho e é reconhecido como Mestre, Instrutor, Avançado, faixa preta etc., e não se sente feliz, realizado, iluminado e iluminante, melhor refazer todo o sistema ou repensar a vida. Para que diabos ela/ele quer se meter em Thelema e na A.'.A.'. mais precisamente? Será que não alcançou as consecuçõesdescritas em tais trabalhos? A ideia é essa, seja qual trabalho for, afinal Thelema não é o único caminho, longe disso, mas eu entendo que ela desperta algo no coração da humanidade, tem uma faísca ali que se assoprar pode virar fogo vivo.
Mas… quem assopra? Quem tá soprando? Porque de repente a brasa ao invés de virar fogo pode apagar, mas…
Dessa lista de candidatos maravilhosos, uma parte achou um insulto começar pelo começo, estudante/probacionista - mesmo eles não tendo lido nada de Thelema ou de Therion anteriormente, não tendo conhecimento algum de detalhes básicos que todo interessado busca empreender. Teve um que achou um absurdo não ser recebido já como Neófito devido aos muitos “títulos” que ele possuía e buscava “equiparação”. Sendo que até perguntei: Qual a Natureza dos Poderes do seu Próprio Ser? Qual a palavra do Neófito (e sua fórmula muito bem estudada e exposta sob a ótica da kabbalah e seus caminhos) e por fim: Qual a visão do SAG?
Aí dá pra se imaginar a miríade de subterfúgios poéticos ou prosas flácidas para o acalanto bovino (conversa mole pra boi dormir). Ops, vamos lá, respostas pessoais: (uma Luz, uma Vontade, uma Coisa Inefável, a Rosa na Cruz, O Desabrochar, eu mesmo, Uma mulata da Portela, o Chrestos) e por aí vai. As coisas não são por aí, e iniciação não é a organização de ideias em livre associação. Todas as respostas fazem sentido para aquela pessoa que proferiu, sua vivência, sua órbita. Sim, eu respeito isso, mas é uma resposta falsa, justamente por ser pessoal, justamente por estar mais para palpite do que frutificação. Toda iniciação é pessoal, e isso é ponto pacífico, mas toda fórmula de iniciação é impessoal e logo, universal. Há uma geração de simbolismo, e não falo aqui de crítica ou variação de temas, aliás, as pessoas perderam a capacidade de aprender com críticas, mas esse assunto daria um outro artigo, falo sobre o fato de nenhuma resposta de cunho de percepção pessoal, como as acima descritas, representa um símbolo de iniciação universal, ou seja, aquilo que de fato é uma verdadeira chave!
Sim, pense numa chave de roda daquelas de trocar pneus de carro? Os pneus, as rodas e os carros são completamente diferentes uns dos outros, mas a chave de roda serve para todos, é uma ferramenta universal, porque se pensa que a iniciação não é?
" As cores são muitas mas a luz é uma só"
Vejam a chave de roda, que serve para trocar pneus de um Fusca a um Toyota, como um símbolo, ferramenta universal de iniciação. Como cada um vai trocar essa roda, aí é a iniciação pessoal e suas nuances. Enfim, quero dizer que conheço muitos Ifaistas, Candomblecistas, Maçons, Rosacruzes e etc. felizes vivendo e se realizando dentro daquelas tradições, e também conheço um monte desses que estão em Thelema felizes criando e recriando o seu próprio sistema, sabendo que são Sóis e como tal, há uma ordenação orbital e profundo respeito a outras estrelas.
A coisa mais normal do mundo é o instruído pensar que sabe mais que seu instrutor! Faz parte dos complexos da relação humana, e talvez possa saber mais mesmo de qualquer assunto, até de magia, e repito, isto é normal. O trabalho não é escolar, e a iniciação não acontece no plano intelectual (sempre bom frisar), mas o instruído não sabe mais do que o seu instrutor sobre o trabalho que está realizando, isso eu posso garantir. No fundo, falando de A.'.A.'. é isso que interessa, é a experiência do trajeto trilhado que confere ao guia seu status, o resto vem a reboque ou nem vem, e não importa nem um pouquinho. Até porque por aqui o que importa são as percepções, aquelas capazes de driblar o ego e gerar gnose.
A percepção é fruto de prática, fenômenos e coisas daquelas que ferem os sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar ou prithivi, apas, tejas, vayu ou akasha) mas esse é outro papo e antes que pensem, sim, tá tudo fora de ordem mesmo. Porém, essa repetição vai gerar memória, vai gerar automatismos, vai gerar caminhos, emoções, sentimentos, pensamentos, um caminhão de Maionese Helmmans onde viajamos às vezes. Por fim, num momento inexplicável e incontrolável (não se controla nada) vai gerar uma GNOSE. É disso que seu instrutor saca, enquanto você ainda não. Até porque nessa de caminhar solo, urubu vira papagaio fácil.
Para finalizar, se tenho uma qualidade, foi de confiar na minha instrução. Não porque se trata de alguém experiente, mas porque houve uma reciprocidade de confiança. Eu nunca em momento algum me coloquei acima dele, ou questionei a metodologia, e nunca fiz aquela competição idiota de tentar passar meu instrutor, sempre fui leal. E ele me levou onde tinha que levar, deu o melhor dele, tenho certeza disso, sou testemunha disso. Não chegaria a lugar algum sem as preciosas dicas que ele me deu em momentos cruciais. Dicas essas que muitas vezes desprezei, mas foram dadas. A Grande Obra é um assunto pessoal e bem complexo, mas o treino para realizá-la é agora em nossa ordem da A.'.A.'., do Probacionista ao Limiar (DL), esses cinco tipos de trabalho duríssimos elementais, equilibrando sonhos e ilusões, desejos e aspirações, sem nenhuma pompa ou circunstância, sem nenhuma coroa de louros, nenhum avental de caveiras, nem um colar maneiro para colocar, na verdade é um eterno despir. O que a laranjeira precisa saber para dar laranjas? Pois é.
Força e fogo são de nós
H418
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