A Dispersão na Perspectiva de um Probacionista

 



Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

 

Tive meu primeiro contato com Thelema na adolescência, influenciado pelas letras das bandas de Heavy Metal. Ainda nesse período, ao andar por uma biblioteca, me deparei com uma edição de “Os Livros de Thelema” da editora Madras. No momento eu pensei “então esse é o Crowley que o Ozzy tanto fala?”. Decidi comprar o livro, fiz uma leitura corrida e, assim como o Ozzy relata em “Mr. Crowley”, não entendi nada da mensagem proposta. Guardei o livro na estante e por lá ele permaneceu por mais de uma década.

Alguns anos depois, um pouco mais amadurecido em comparação com o garoto de 16 anos que era na época, e tendo um pouco mais de conhecimento sobre o mundo, me deparei novamente com esse livro na estante. Então pensei que talvez fosse um bom momento para tentar compreender Thelema.

Com isso, iniciei minha jornada como Estudante dos Mistérios e após 6 meses assinei o juramento do Probacionato. Confesso que em um primeiro momento subestimei as tarefas e achei que era tudo muito simples. Realmente, em teoria as tarefas são simples, mas na prática as coisas não são tão tranquilas como aparentam.

Os primeiros dias como Probacionista foram extremamente empolgantes, tudo era muito novo, as sensações e insights provenientes das práticas eram reveladoras. Porém, com o passar dos dias, esse êxtase foi diminuindo na medida em que a novidade se tornou um compromisso que requer disciplina. Nesse momento, entendi quando minha instrutora me disse que o meu maior desafio seria a dispersão.

Identifico a dispersão em alguns aspectos. O principal se relaciona com desejos e hábitos mundanos. Percebi que possuo uma enorme disciplina para realizar incontáveis atividades que não levam a nada, e que nos horários das práticas sempre surgiam alguma outra coisa a se fazer: uma necessidade de ir ao mercado, um vídeo para assistir, um jogo para jogar, etc. Nisso, iniciou-se a construção de uma enorme montanha russa, caracterizada por momentos de grande disciplina e outros completamente inóspitos.

Outro aspecto que considero como dispersão, surge como resíduo dos momentos de grande disciplina, ao qual as práticas são realizadas com seriedade. Nesses momentos pude perceber diferentes aspectos que influenciam o meu Ser, tanto internos quanto externos. Desde coisas simples, como ser mais produtivo em dias frios, até a identificação de sombras, como microtraumas que interferem nas minhas relações como adulto. Em um determinado momento, a compreensão desses aspectos de sombra se tornaram dispersão. Pois realizar as práticas, automaticamente me levavam a encarar essas questões, mas meu ego nem sempre estava disposto a lidar com esses problemas. E aí, a solução mais fácil era a de não praticar.

Por outro lado, não praticar me leva a uma série de sentimentos. O que mais incomoda é a sensação de não estar aproveitando bem o meu tempo e o tempo da minha instrutora. Acredito que esse seja um sentimento que todo Probacionista já teve ou irá ter em algum momento de sua jornada. Na minha experiência, recordar de como eu era antes do Juramento e como sou no atual momento, me faz ter uma ideia de progresso e me tranquiliza.

Todas essas questões me remetem à relação entre Inércia e Persistência, que ao meu ver é o principal ordálio proveniente da dispersão. Em alguns momentos me vejo em uma tentativa de tirar algum ensinamento dos momentos de inércia, e acredito que exista uma tendência de aprender com os insucessos. Porém, vejo um ponto positivo e um negativo dentro desse contexto.

Positivo em termos de comparação entre dias de disciplina vs dias de indisciplina, o que pode ser um caminho que gera resultados para um melhor entendimento do meu Ser. Negativo no sentido de se tornar uma desculpa para justificar a indisciplina. É óbvio que os erros nos ensinam e apontam aspectos importantes, mas eles não devem ser o caminho do Sucesso.

Penso que esses altos e baixos fazem parte da jornada. Principalmente no Probacionato, com toda a busca para sair do mundo das conchas e alcançar Malkuth. Todo esse processo se dá como um ajuste de frequência para sintonizar uma rádio, devemos encontrar a frequência correta para sintonizarmos o nosso Ser, e enfim seguirmos em direção à nossa Grande Obra.

Talvez outros Irmãos tenham experiências mais amenas, ou até mais complexas que as minhas. Mas não podemos esquecer de que devemos persistir e progredir. Que o Sucesso seja a nossa prova!

 

Amor é a Lei, Amor sob Vontade!


Frater Hermeticus


Comentários

  1. Caro Frater Hermeticus, muito pertinente o seu texto! Parabéns... sei exatamente o que você diz porque é basicamente o sentimento que tenho. Porém, eu diria que isso vai um pouco além, por exemplo, na identificação dos gatilhos que nos levam à inércia e à indisciplina, que neste caso, se tornaria no nosso primeiro ordálio. Obrigado por compartilhar conosco!

    93,93/93.

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