Novo Aeon, Fast-food Espiritual e o Livro das Mentiras

 


Nossa história começa nos anos 90 quando Millennials experimentavam as conquistas tecnológicas de uma Uraniana Era de Aquário. A internet, filha dos esforços bélicos por rastreamento e comunicação trouxe novidades para uma geração posterior à geração X e aos baby-boomers do pós-guerra. Claramente Crowley no início do século XX “cantou a pedra” da Nova Era. Ainda que pese a discussão, Era de Áquario X Aeon de Hórus, não a farei neste momento, o que trago é uma linha evolutiva passando pela Escritura do Livro da Lei em 1904, A Primeira Guerra Mundial 1914-18, a Grande Crise dos anos 20, a Segunda Guerra Mundial nos 40 e o culminar da Guerra-Fria, dos Hippies e a Revolução dos anos 60. A guerra tirou as mulheres de seus lares para assumirem funções até então masculinas, inclusive na fabricação de munições e na aeronáutica. Crises econômicas e sociais surgiram e ressurgiram durante estes intensos anos, e a partir dos anos 60, manifestações e revoltas guiadas por liberdade e igualdade floresceram: Feminismo, Orgulho Gay e Anti-Racismo se espalharam. “Não existe exército que resista à força de uma ideia que a seu tempo tenha chegado” (HUGO, V.) e as correntes Gramscianas conhecem bem estes atributos ideológicos como potentes armas de revolução social. Fato é que bem ou mal manipuladas estas correntes trazem tendências e forçam mudanças estruturais fundamentais para a nossa evolução, sem elas talvez as mulheres ainda fossem proibidas de votar. Infelizmente apesar dos avanços tecnológicos e mesmo conscienciais ainda nos deparamos com bizarras comparações de gênero e somos muitas vezes confrontados com ideias como “mulheres não são boas magistas”. Sim, o tempo todo isto acontece! Pare e pense um pouco, você olhou para ver se este artigo foi escrito por um frater ou uma soror? Se não, parabéns você está indo além do corpo físico. Mas seguimos, afinal você deve estar se perguntando o que isto tudo tem a ver com a internet e o título deste artigo.  

Voltando aos anos 90 e principalmente 2000 quando cada vez mais lares possuíam um PC a internet rapidamente virou febre e através de “rudimentares” aplicativos você poderia conversar com alguém distante, conhecer novas músicas e livros, eram os primórdios dos Apps e mídias sociais. Contudo, quem é desta época pode recordar o quão difícil era encontrar um bom site, com livros e informações. Não existia um “Google”, o celular então... artigo de luxo! Foi justamente nesta época que conheci o Livro da Lei, motivada pela curiosidade sobre a Thelema que o Raul tanto falava. Fui até uma livraria em uma cidade distante e adquiri uma cópia. Lembro-me que na ocasião o vendedor solicitou a autorização de meus pais para que eu pudesse comprá-lo e o ar de mistério só fazia aumentar a vontade de ler o tal livro. Seria ele tão pestilento assim? Ordálios ou adolescência, chame como quiser, mas fato foi que o tal livro mexeu com a minha cabeça e intrigada como era em não ser “mais um tijolo na parede” fui pôr em prática as ideias. Porém, dizem que quando o Aspirante está pronto o “mestre aparece”, não é mesmo? E eu não estava pronta e acabei abandonando os estudos thelêmicos. Tentei me adequar no Hare Krishna, mas infelizmente até a doutrina Vaishnava era cheia de preconceitos com as mulheres. E eu me pergunto o quanto estas tradições antigas do Velho Aeon são assim, justamente, porque a mulher não tinha um controle sobre a reprodução. Isto é, uma vez grávida a mulher teria que cuidar de seu filho e deste modo ela não poderia fazer como faz um sannyasi que se retira para a floresta em busca de ascensão espiritual, ela teria que cuidar, nutrir e suprir sua cria. Também é possível entender como a criação do método contraceptivo nos anos 60 trouxe um leque de possibilidades para a mulher, trazendo inclusive maior liberdade sexual. E se formos analisar, são apenas 60 anos de pílula comparados a séculos de domínio do famigerado “patriarcado”.  

Voltando à internet, lembro que com muito custo consegui uma cópia do Liber Librae e alguns capítulos do Livro das Mentiras. Eu escrevi em diários e reli tantas vezes o material como se fosse uma rica joia a ser guardada e ainda hoje eu relembro os trechos e eles sempre trazem novas informações à medida que evoluo.  E é justamente esta a minha queixa, pois na época eu não contava com um amigo sequer que tivesse lido o Liber AL e portanto, não havia ninguém com quem pudesse discuti-lo ou mesmo adquirir mais material, visto que eu moro no interior de Santa Catarina e mesmo hoje em dia é escasso encontrar alguém que domine o assunto. Mas hoje existem as mídias sociais, o Google, os PDFs, grupos de WhatsApp entre tantos outros métodos de buscar este conhecimento. Deparo-me, porém, com o questionamento de quanto essa velocidade na aquisição de mais informações é salutar. É inegável o quanto estamos mais neuróticos e acelerados e este parece ser um Ordálio Global do Aeon de Hórus, muito conhecimento acessível, porém muita dispersão e pouca disciplina. Não nos esqueçamos que para os hindus ainda vivemos a Kali-Yuga, portanto o caos ainda impera. E quais são os aspectos visíveis em nossa sociedade neste contexto?  Brigas em redes sociais como pássaros que passam o dia a bicar seu reflexo no espelho, informações superficiais aqui e acolá, e de repente, já temos mais um Magister Templi: é o Fast-food espiritual onde não se aprofunda em nada e se julga saber de tudo. Há muito perdemos a humildade em dizer: “Eu não sei”, “Ensine-me”, logo corremos para o navegador em busca da resposta mais rápida que atenda a esta dúvida e pronto: somos mestres! E é aqui que ressalto a importância da A:.A:. ao nos confrontar com a nossa ignorância diante da Verdade e assim traçar um modelo evolutivo linear, prático e de profunda tradição. É aquela dose Saturnina de severidade e disciplina que o Aquário tanto precisa nesta Era. E é assim que 20 anos após o início de minha jornada eu finalmente encontrei meu mestre ou melhor minha “mestra”!

Soror Padme Saraswati


P.S.: Deixo um dos capítulos do Liber 333 que anotei na
época e que mais ecoou em minha mente nestes anos: 



14.



 ΚΕΦΑΛΗ Ι∆



DESCASCAR CEBOLAS



O
Universo é a Piada Prática do Geral à Custa do Particular, declarou FRATER
PERDURABO, e riu.



Mas
aqueles discípulos mais próximos a ele choraram, vendo a Tristeza Universal.



Aqueles
perto deles riram, enxergando a Piada Universal.



Abaixo
destes, determinados discípulos choraram.



Então
alguns riram.



Outros
próximos choraram.



Outros
próximos riram.



Próximos
outros choraram.



Próximos
outros riram.



Por
último vieram aqueles que choraram porque não conseguiram enxergar a Piada,



E
aqueles que riram para que não se pensasse que eles não conseguiram enxergar a
Piada,



E
acharam que seria seguro agir como FRATER PERDURABO.



Mas,
apesar de FRATER PERDURABO ter rido abertamente,



Também
Ele ao mesmo tempo chorou secretamente;



E
n’Ele Próprio não riu nem chorou.



Nem quis dizer o que Ele disse.


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