Deusas Telesmáticas: Uma, “ Duas e Nenhuma.”


Nuit!
Serias o início e o fim? O Tudo e o Nada? 
Linda Deusa das pálpebras azuis,
Cujo corpo nu e negro como a noite contém todas as Estrelas do Universo. 
Deusa dos Deuses, Espaço Infinito. Onipresente.
Serias Tu o próprio Universo? 
Tua divisão por Amor derrama sua Luz Estelar sobre nós;
Que ao penetrar nosso corpo nos concebe como Estrelas, 
Tornando-nos à sua imagem e semelhança,
Morada de Had, aquele que é o sopro da Vida, seu noivo.
Serias Tu o Universo individual de cada um? 
Tentar compreendê-la intelectualmente é a mais tola das convicções.
Como Aspirantes, ainda a vemos como Uma,
Mas tu disseste que é Nenhuma e Duas.
Que toda dor é ilusão.
O êxtase, o amor, e a alegria, são os que nos conectam a Ti.
E mesmo sentindo constantemente a dor de sua raptura por nós, em nós,
Não hesitamos em viver ostentando o acalento de um beijo teu.
Mas quando há ânsia de resultado, tudo se torna puro capricho. 
Se porventura, como crianças nos perdermos nas distrações do ego,
Retornar à Ti permanece sendo uma meta.
Dissolver-se em seu corpo estelar será nossa grande festa. 
 
Hathor!
Deusa dos cornos dourados que sustentam o Disco Solar, Ra-Hoor.
És o refúgio das mulheres que sofrem por amor,
És a Deusa da alegria, da fertilidade, dos prazeres da vida,
Mas não ouse incitar sua fúria.
És a Vaca Celestial que nos alimenta com o leite das estrelas.
És a Deusa do Sol do meio dia e do Sol da meia noite.
Ao meio dia és bela e faceira. 
Sua dança ao som de seu Sistro Sagrado,
Seduz e envolve em êxtase seu consorte, Ra-Hoor.
O Amor consumado hipnotiza a todos os seres da terra,
Que atraídos pelo calor e brilho intenso dessa união celebram a existência.
Ao poente, imergindo o disco solar, 
Tu transformas seus cornos dourados no Cálice Sagrado: Het-Heru,
O útero, a Casa de Hórus. 
E assim, a Vida e a Morte dão-se as mãos. 
Ao Sol da meia noite, como guardiã dos mistérios,
És aquela que conduz as almas pelo submundo,
A escuridão de seu ventre.
Protegendo-as em tua barca, guiando e as preparando
                                                              Para o alvorecer do Sol.                                                                  
Então recomeças a dançar,
Ao erguestes entre seus cornos o disco solar, 
No ato de dar-lhe a Luz.
Consorte, mãe, filha e irmã,
Hathor e Ra-Hoor são Um.
Onipresente e eterna,
Hathor é Nuit.
 
Babalon! Quem és tu? 
Uma Deusa de várias facetas ou um princípio? 
A representação do feminino em seu aspecto mais vivo, libertino? 
És a Deusa das mulheres livres, que conhecem muito bem seus corpos e o reverenciam.
És a prostituta Sagrada cujo mistério habita cada mulher na profundeza de suas entranhas. 
Onipresente. A conhecida, desconhecida.
Quem a encontrou, se a reconheceu, silenciou.
Talvez não haja palavras para descrevê-la,
Visto que Desejo e Vontade,
Mesmo ao se diferirem em totalidade,
Confundem até os mais experientes.
Serias tu a Aspiração ao puro êxtase
Que transcende ao estado de consciência
Em prol da mais singela e visceral natureza feminina: O ato da criação?
Ou seria “creação”? 
Babalon é Nuit,
A venerada e ostentada conhecida desconhecida. 
 
E tu mulher Thelemita?
Também és uma Deusa com muitas facetas.
Feminista? Ativista?
Casada? Solteira? Mãe? Filha?
Executiva? Dona de Casa?
Qualquer atribuição é indiferente.
És Mulher,
Que como todas as outras,
Carrega inúmeras cicatrizes adquiridas no percurso da vida.
Talvez, o que te diferencie um pouco,
Seja o fato de ter sido atraída ou escolhida por Thelema.
Pelo desejo latente de se libertar das amarras ancestrais,
Sobretudo, as amarras do próprio ego. 
Tua maior Aspiração é o encontro com Si mesma.
Embora estejas a percorrer caminhos árduos, dolorosos, ardilosos,
Permites por vezes, iniciaticamente,
Escancarar as feridas da alma.
Re-experimentando-as em prol da cura, da superação e da purificação.
Por detrás das pesadas Ordálias,
Há a recompensa imensurável de enxergar a vida como ela é.
A cada etapa, um recomeço propõe que mergulhastes
Mais profundamente nas causas de tuas cicatrizes.
A cura precisa acontecer na fonte.
Dói, revolta, mas desperta,
Contudo, ensinas a amar-te cada vez mais.
Então, a alegria se torna intensa e verdadeira quando
Podes ver quem és, ser o que quiseres ser,
Encarar a realidade sem vendas nem véus,
Mas com a pureza de uma criança que aprende a partir da experimentação. 
Tu enfrentastes, sim, ambientes por vezes hostis,
E aprendestes com o tempo,
Que o machismo estrutural é driblado,
Ora com vigor Marcial,
Ora com a doçura e perspicácia Venusiana.
És Marte e Vênus, Sol e Lua.
Queima dentro de ti,
A fagulha das Deusas e dos Deuses.
És Hathor e Babalon,
És Ra-Hoor e Pan.
És Mulher, És Deusa, És Nuit:
És uma Estrela radiante no Corpo Estelar da Deusa dos Deuses.
Agora, tu és Uma,
És Duas e futuramente,
Serás Nenhuma.



 



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