Eu, Motta, Euclydes e a Kaballah

 



Eu, Motta, Euclydes e a Kaballah 




Antes de ingressar na Santa Ordem, eu tinha a ideia de que o trabalho Kabbalístico, realmente, se iniciava em Malkhut. Tudo me levava a pensar assim: os livros que havia lido, ser a Esfera de Malkhut o mundo material, sendo ela a raiz de Assiah, o Mundo da Manifestação, etc. Porém, em 1981, depois de comparecer a uma reunião na ARI (Associação Religiosa Israelita) no Rio de Janeiro (para quem não sabe sou judeu de origem) por ocasião das comemorações de Chanuká, um polêmico Rabino progressista de São Paulo, Rabi H., ao palestrar sobre a dificuldade de ser judeu pleno nos dias de hoje, fez uma declaração que me chocou. Mais ou menos ele disse o seguinte: “O Reb Maimônides afirmou à sua Escola, que o ser humano possui uma grande barreira para conscientizar-se no Caminho do Eterno. É que o homem, embora tenha o Guph (Corpo) em Assiah Olam (Mundo da Manifestação), sua mente está aprisionada em Qliphoth (Mundo das Conchas) onde, entorpecida, vaga ao sabor de um ciclo vicioso”. Continuou esclarecendo, “Assim, o Reb nos ensinou que o ser humano, entorpecido faz culto e adora ao Eterno, trabalha, constitui família, se diverte, lamenta suas perdas e comemora vitórias, etc., literalmente dormindo. Entre nós há muitos Yahudim (judeus) assim, entorpecidos em um sono da mesmice, imaginando que Assiah Olam é essa inconsciência. Há necessidade de acordar e a primeira tarefa para isso é perceber que estamos sob a influência de Qliphoth. Enquanto alguém não perceber que está numa prisão, não fará esforços para sair dela”.

Eu e muitos que estavam naquela reunião, ficamos pasmos com as palavras do Rabino. Ele não era, que soubéssemos, um Kabbalista, mas por ser de uma corrente progressista, tinha uma visão ampla do judaísmo, onde toda herança ancestral tinha extrema importância. Particularmente, tudo aquilo atingiu meus estudos sobre Kabbalah e comecei a buscar autores sobre o tema que fossem mais profundos.

Foi, então, que me lembrei que havia encontrado um cara, na Livraria Francisco Laissue, no Rio de Janeiro, no final da década de 70, que com sua voz meio afetada, falara de um tal Livro da Lei, mas que não me havia e interessado na época. Voltei então à Livraria em 1981, tendo conversado com o saudoso Jacinto, que me vendeu (com bom desconto, pois estava encalhado por lá) um exemplar do Equinócio dos Deuses, publicado pelo tal cara, Marcelo Motta.
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 ¹ Maimônides - Rabbi Moshe ben Maimon -  Moisés filho de Maimon (1135-1204) foi um rabino, codificador, filósofo e médico, foi especialista em lei judaica.


Foi através do endereço constante no Livro, que contatei o Motta e vim a ser recebido na Santa Ordem, em 1982. Bem, foi nessa recepção que Motta, sob o Motto de Adjuvo, dentre as várias explicações sobre as tarefas, disse “tua tarefa principal é ‘obter um conhecimento científico da natureza e dos poderes do meu próprio ser”. Eu me manifestei com sinceridade: “Não tenho a mínima noção de como fazer isso. O senhor vai me dizer como?”. Com paciência, ele me fitou nos olhos e respondeu: “ Não senhor, a tarefa é sua, desta forma, o máximo que posso lhe dizer é que (me mostrou um diagrama da Árvore da Vida) o senhor está aqui (mostrou uma meia lua, antes de Malkhuth) e aqui é o Mundo Qliphótico, onde todos o que não tem consciência do Caminho estão. Por isso seu grau é ‘Probacionista’, isto é, um grau de provação. A prova é a persistência. Você tem que chegar a Malkhuth,  as isso…...”. E não escutei e nem me lembro do que ele falou depois. Só me lembrava das palavras do Rabino.

Muito anos mais tarde, ao conversar com Euclydes (Frater Thor) em Paraíba do Sul, durante um reunião da Loja Therion, dentre vários assuntos, o velho Mestre, tendo em vista a pergunta de uma nova integrante da Loja sobre a Santa Ordem, dentre vários pontos, ele foi taxativo ao dizer: “O ser humano comum não vive conscientemente em Malkhuth, mas em Qliphoth, o Mundo das Conchas e dos Demônios. O ser humano é escravo destas forças que o mantém inconsciente de sua Verdadeira Vontade. É preciso acordar. A Grande Obra tem início no momento que o homem percebe esta situação, aquilo que Motta chamava de ‘Grande Feitiçaria’ - a prisão a que está submetida a consciência humana” para daí surgir a mudança consciencial etc, etc. Já imaginaram a minha cara, não?


QVIF 196
Excerto de um comentário de Chamando os Filhos do Sol comentado por frater QVIF - Parzifal Publicações.





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