Estudos Diminutos sobre o Liber 44 ou a Missa da Fênix.




Estudos Diminutos sobre o Liber 44 ou a Missa da Fênix.



Carambolas! Macacos me mordam...Missa em Thelema? Missa na A.:A.:? Pra que isso? Mas que saco...eu detesto a missa católica dizem alguns. Sim temos não só um como 2 rituais de missa escritos pelo profeta de Thelema, uma que é o fruto do nosso artigo Liber 44 ou a Missa da Fênix e a outra Liber XV a missa utilizada pela EGC da Fraternidade OTO e mais um monte de missais escritos por outros thelemitas competentes e utilizados em outras Ecclesias Thelêmicas como a Ecclesia Gnostica Universalis ou a Thelemic Gnostic Church of Alexandria e ainda a Gnostic Church of L.V.X só para citar alguns desses movimentos gnósticos que dão um sabor especial ao cenário ainda efervescente e novo de Thelema + Gnose. Mas para acalentar os corações gélidos queria esclarecer alguns pontos e dali partirmos juntos nesse diminuto estudo.
 
Gnose, vem da palavra grega Gnosis (γνῶσις), conhecimento, um processo pelo qual, através de uma prática, de um insight, de uma experiência produz-se um conhecimento iluminado, isto é um ato de sabedoria.  Favor não confundir com qualquer movimento iniciático, ocultista etc..., visto que Gnosis é uma auto realização.

Porém a missa gnóstica é um ritual que faz muitas vezes alusão a uma celebração, onde em especial um ou mais sacramentos podem ser ministrados, vide que sacramento, além de sagrar, tornar sacro, pode ser entendido como conjugar, e dentro de qualquer missa o sacramento mais importante é o da transubstanciação ou Eucaristia. 

Uma Eucaristia é uma cerimônia em que elementos comuns são imbuídos de forças divinas e depois consumidos. Ou seja, transubstanciar-se nessa celebração das forças com a natureza, Crowley em seus Confessions expõe: “Eu resolvi que meu ritual [a Missa Gnóstica] deve celebrar a sublimidade da operação de forças universais sem introduzir discutíveis teorias metafísicas. Não gostaria de fazer nem implicar qualquer declaração sobre a natureza que não seria aprovada pelo homem mais materialista da ciência. Superficialmente isto pode parecer difícil; mas na prática eu achei que era perfeitamente simples para combinar as mais rigidamente racionais concepções de fenômenos com a celebração mais exaltada e entusiástica de sua sublimidade.”

Aleister Crowley em Liber Aleph fez mais: recomendou o desempenho diário da missa, para isso ele fez a Missa da Fênix, que é projetada para ser realizada diariamente ao pôr do sol. Ele também adaptou a Missa da Fênix para uma cerimônia congregacional chamada "Ritual Ordenado pelo Serviço Público". Foi realizado pela O.T.O. antes da publicação da missa gnóstica eucarística Liber XV, após este Ritual ordenado foi perdendo seu uso.

Segundo nosso entusiasta Iao131 que nos presenteou com o hexagrama com a bandeira do Brasil, em seu excelente ensaio “The Symbolic Dimensions of the Gnostic Mass” toda a Missa Gnóstica mostra a transformação psicológica do Mago/Sacerdote, passando de uma identificação com a persona de uma identificação com o Self arquetípico, que abrange a totalidade da psique, tanto consciente e inconsciente. Todo o processo pode ser resumido como: o Sacerdote se identificar com Persona → Sacerdote identificação com Ego → encontro com a Sombra → com o Anima → com o Anima para “libertar” ou acessar o Self com o qual o Sacerdote finalmente identifica.

- Por mais Jung que possa parecer esse conceito ele carrega em si um trabalho que todos conhecemos bem, que é o Assunção Forma Deus em Liber O e que prova ser bastante eficaz no que se propõe. E toda a questão da missa da Fênix ocorrer ao pôr do sol ou seja a descida de TUM(Temu) pelo barco infinito ao reino da noite onde teremos o sol da meia noite Kephra até o novo nascer do Sol em Rá no seu levante, vemos claramente a intenção de mais trabalho e esforço dentro da fórmula do neófito da antiga GD que em Thelema é muito própria e cara ao Probacionista, para isso os interessados acharão vasto material em Magick ou Liber 4.
 
Minha parca experiencia com o ritual me faz tecer algumas considerações bem práticas a respeito, fruto de percepções que compartilho com vocês, sem ânsia de resultado algum, a título de fomentar ideias:

Uma verdadeira Eucaristia Mágica individual

O encerramento ritual do Neófito da Golden Dawn inclui uma eucaristia de cinco elementos que influenciaram fortemente a Missa da Fênix de Crowley, então além da fórmula do Neófito vale dar uma lida neste ritual propriamente dito, assim como em Liber HHH primeira meditação.
Na obra Magia em Teoria e Prática, Parte II, cap. XX e Livro 4, Parte II, cap. IV. Existe uma eucaristia que de certa forma contempla essa ideia com certos elementos que os indianos chamam de 3 Gunas, Tamas (inércia), Rajas (movimento) e Sattvas (ritmo) importante notas como essas três forças representam bem a condição de Malkuth de Assiah. 

Sobre o polêmico “Pai Nosso” thelêmico, ou as sete petições contidas em Liber 44

Therion estudou e muito Inácio de Loyola, Molinos e grandes doutores da lei cristã. O que temos que entender que tal oração serve para nos conectarmos à Egrégora do Novo Aeon em Malkuth de Assiah, ao analisarmos as sentenças, há um momento devocional e dessa vez na minha opinião de que o SAG possa se manifestar através de seus eflúvios até a nossa realidade no “Reino” ele mostra seu “Dharma” nos livrando do Mal e do Bem, nos leva por Nossa Senhora Babalon através da tentação, ou da Meia Noite até o Sol, aqui eu indico aos leitores a 2ª meditação de Liber HHH, e por fim que sua realidade de Rei seja manifesta em mim mesmo com a Opressão, Saciedade, Riqueza e Ruína. Enfim a verdadeira Imagem de uma Imagem tal qual Liber LXV I,8.

Sobre os Bolos de Luz ou Hóstias

Os Bolos de Luz contêm farinha, mel e óleo para sua base. Tal qual uma refeição contém carboidratos, gorduras (óleo) e proteínas (mel). Carboidratos, óleos e gorduras são macronutrientes essenciais aos organismos vivos. Os Bolos de Luz também têm para seu simbolismo os cinco elementos: farinha (Prithivi, Terra), mel (Vayu, Ar), água (Apas, água), óleo de Abramelin, azeite (Tejas, Fogo) e sangue (Akasha, Espírito). Alguns identificam o Bolo de Luz com o Sol, ou pelo menos é nessa substância que ele sofrerá a transubstanciação.  A receita para os pães de luz é encontrada no terceiro capítulo do Liber AL vel Legis, e facilmente na internet. O uso de sangue dentro deste rito é importante por mostrar os ciclos de criação e dissolução, o eterno ciclo de recorrência que o mago percebe e do qual se liberta. Os Bolos da Luz são universalmente aplicáveis; eles contêm farinha, mel e óleo (carboidratos, gorduras e proteínas, três coisas necessárias à nutrição humana): também perfume dos três tipos essenciais de virtude mágica e curativa; o princípio sutil da vida animal em si é fixo nelas pela introdução de sangue vivo fresco. Uma variação deste ritual é fazê-lo apenas com sêmen ou fluidos sexuais. É uma boa ideia experimentá-lo de diferentes formas por um período, meditando na natureza da vida em suas variadas formas tais como sofrimento e alegria, como recorrência eterna e como força imortal. Pra ser sincero já utilizei também com outras substâncias, como gosto muito de cozinhar tentei fazer hóstias, não consegui o resultado esperado, mas ficou com algo parecido, já usei hóstias compradas em lojas, (viajo muito a trabalho, as vezes a praticidade vence o legalismo), já usei bolo de nozes (essa não sei explicar porquê, porém me sentia pleno com eles) como também já realizei a prática sem bolo algum nem hóstias utilizando apenas a imaginação. Embora não tenha no ritual eu utilizava uma fórmula sacramental com o vinho também, há uma gnose na mistura da água e do vinho (ou melhor do sangue com o vinho hehehe), porém o uso do suco de uvas integral foi o campeão da força na minha experiência, e sim podem me chamar de blasfemo, aceito e incentivo a experimentação, ninguém segue a receita do bolo ipsis líteris, nem quem a escreveu.

Sobre o Mantram ABRAHADABRA

Muito material subjacente pode ser encontrado em "O Templo de Salomão, o Rei" do Equinox Vol1 N4 e muito estudo sobre o mantram Abrahadabra.

1. Abrahadabra - a recompensa de Ra-HoorKhuit. Nós já vimos que Abrahadabra é o glifo da fórmula da Rosa e da Cruz. Assim também a Grande Obra, o equilíbrio do 5 e do 6, é mostrado neste Deus; cinco vezes como um guerreiro Hórus, seis vezes como o Ra solar. Khuit é um nome de Khem, de modo que o deus inteiro representa no simbolismo cabalístico que alguns autores discordam de como nominar por isso deixo assim inominado, porém simbolizo, e de novo na minha opinião, como o Triângulo Vermelho descendente - a única coisa visível. Hadit e Nuit estão mais além, num plano não manifesto.  Abrahadabra é traduzido por Gustav Davidson em seu Dictionary of Angels como “Eu abençoo os mortos”, e é um dos três Nomes Sagrados usados ​​para abençoar uma espada (Clavicus Solomonos?). Davidson também afirma que é derivado do hebraico “ha brachah dabarah” ou “Speak the blessing”. É usado como um amuleto para curar e afastar o mal. Quando cantado, é reduzido letra por letra. (Já tentei fazer assim, porém me dei melhor com cantar por extenso como uma palavra, numa melodia que ouvi na minha cabeça e até hoje faço assim, com bons resultados).

Ele sugere ainda uma relação entre o mantra e uma "divindade" gnóstica mais antiga, Abraxas, ou "o supremo desconhecido", e fonte das 365 emanações da teologia persa. Também é encontrada em vários textos mágicos e místicos hebraicos, incluindo A Espada de Moisés e O Livro do Anjo Raziel. Na teologia gnóstica, é usada como um termo para deus, ou como um mediador entre a criação e a divindade.

Crowley escreve isso para que ele some 418 em gematria (19 x 22) ou 22 usando a “Cabala das Nove Câmaras”. Várias fórmulas são elaboradas para mostrar significados e relações ocultas entre as letras, das quais a mais importante parece ser sua sugestão de "duplo poder" de efetuar tanto o Pentagrama quanto o Hexagrama; e dando o axioma Rosacruz da "Luz, Vida e Amor" na expressão numerológica.

“Luz, Vida e Amor nunca se perdem, mas podem ser evocados eternamente da Unidade Cósmica em que habitam”. Afirma um ritual Rosacruz.

Observemos que Ra-Hoor : RAHVVR = 418. Tal qual ABRAHADABRA, para maiores detalhes a consulta ao Liber 777 págs. 45 ou 46 dependendo da edição há um bom ensaio a respeito.

O SANGRAR DO PEITO

DuQuette em “A magia de Aleister Crowley” escreve: "É óbvio no texto que o Magista deve realmente fazer sangrar para consagrar o Bolo de Luz antes de consumi-lo. Mas em nenhum lugar é indicado que dor, cicatriz ou ferimento é um elemento requerido pela cerimônia. Ela é uma Eucaristia, não um ritual de automutilação." O Sangue como dizem é o veículo do ego, e talvez ai nesse ato magicko há a prova física da eucaristia quando entregamos parte do ego e parte do “serviço” na simbologia do bolo e da hóstia e comungamos à nossa Aspiração, ou à Divindade segundo outros, nesse momento a parte de que a Eucaristia é só uma ferramenta para o processo mágicko se torna evidente. Nunca fiz o símbolo todo no peito, senão ia viver com cicatrizes, fazia com o instrumento próprio o símbolo no astral do meu corpo, ou meu duplo etérico e no fim me cortava somente ao ponto de tirar poucas gotas de sangue, conheço magistas experientes que faziam no braço, uma certa época cheguei a fazer sem tirar sangue algum, assim como não havia bolo ou hóstia alguma, porém a primeira opção para mim foi a melhor.

LMD adverte o uso de um instrumento esterilizado, tal como um riscador de mecânico (ou um estilete), para arranhar levemente a marca na pele. Em certo momento, um leve aumento na pressão será o bastante para produzir uma pequena gota de sangue para o Bolo ou hóstia.

Finalizando esse diminuto estudo sobre o Liber 44, é importante ter o material como uma sineta ou um gongo pequeno, um turibulo de mesa, o que mais gosto é o de cerâmica facilmente encontrado em casa de artigos religiosos afro brasileiros, lá mesmo acha se fácil carvão para Narguilé, queimam fácil e via de regra são de coco, tudo que possa facilitar sua concentração ou simplesmente lhe dar prazer estético para a prática é bem-vindo, a Estela da Revelação, seu Liber Al, uma vela, uma arma magicka, um incenso etc... e no mais ter a noção de que o Ritual te propõe uma mudança de estado de consciência, que via de regra terá como reflexo uma mudança no estado de sua vida. Não há meia transubstanciação, nem meia transmutação, nem almoço gratuito, na realização deste ritual você devera perceber que cada vez mais entrará em contato com forças poderosas que fazem parte de sua natureza interior e a forma de proceder deste contato é o que chamaremos de Gnose pessoal, a ultima dica: a ultima sentença do Ritual: Ele vai Adiante...é o começo de tudo!

LIBER44
O RITUAL

O Magista, com o peito à mostra, está em pé diante de um altar onde estão seu Cinzel, seu Sino, seu Turíbulo, e dois dos Bolos de Luz. Com o Sinal do Entrante, ele passa para o Oeste, cruzando o Altar, e clama:

Salve Rá, que segue em tua barca
Adentrando as cavernas das Trevas!

Ele faz o sinal Hoor-pa-kraat, e leva o Sino, e Fogo, em suas mãos.

Ao Leste do Altar veja-me de pé
Com Luz e Música em minhas mãos!
Ele golpeia Onze vezes no Sino 333-55555-333 e coloca o Fogo no Turíbulo.
Eu toco o Sino: Eu acendo a Chama;
Eu profiro o misterioso Nome:
אבראהאדאברא (ABRAHADABRA)

Ele golpeia onze vezes no Sino.

Agora eu começo a prece: Tu Criança,
Sagrado e imaculado é teu Nome!
Teu reino é chegado; Tua vontade é feita.
Aqui está o Pão; aqui está o Sangue.
Leva nos através da meia-noite para o Sol!
Salve-me do Mal e do Bem!
Que aquela Tua única coroa de todas as Dez
Mesmo aqui e agora seja minha. AMÉM.

Ele coloca o primeiro Bolo no Fogo do Turíbulo.

Eu queimo o Bolo-Incenso, proclamo
Estas adorações em Teu nome.

Ele as faz como em Liber Al, e toca de novo Onze vezes o Sino. Então, com o Cinzel, ele faz sobre seu peito o sinal apropriado.



Veja este meu peito sangrando
Marcado com o sinal sacramental!

Ele põe o segundo Bolo na ferida.

Eu estanco o Sangue; a hóstia absorve
e o sumo sacerdote invoca!

Ele come o segundo Bolo.

Este Pão que eu como. Este Juramento que eu rogo
Conforme eu me inflamo com a oração:
"Não há nenhuma graça: não há nenhuma culpa:
Esta é a Lei: FAZE O QUE TU QUERES!"

Ele golpeia Onze vezes no Sino, e grita

ABRAHADABRA

אבראהאדאברא
Eu entrei com aflição; com alegria
Agora sigo em frente, dando graças,
Para realizar meu prazer na terra
Entre as legiões dos viventes.

Ele segue adiante.

COMENTÁRIO
Do Livro das Mentiras:

"Este é o número especial de Hórus; é o sangue hebraico; e a multiplicação de 4 pelo 11, o número de Magick, explana 4 em seu melhor sentido. Mas veja em particular os relatos em Equinox I, 7, sobre circunstâncias do Equinócio dos Deuses. A palavra "Fênix" pode ser tida como incluindo a ideia de "Pelicano", o pássaro que, diz a fábula, alimenta seus filhotes com o sangue de seu próprio peito. Contudo as duas ideias, apesar de cognatas, não são idênticas, e "Fênix" é o símbolo mais exato. Este capítulo explica o capítulo 62. Seria impróprio comentar mais sobre um ritual que tem sido aceito como oficial pela A.'.A.'..

Capítulo 62 do Livro das Mentiras:

Compreendestes tu? A Fênix tem um Sino para Som; Fogo para Visão; Faca para Toque; dois bolos, um para provar, outro para cheirar. Ele se põe diante do Altar do Universo ao Pôr do Sol, quando a vida terrena se desvanece. Ele convoca o Universo, e coroa-o com Luz MÁGICKA para substituir o sol de luz natural. Ele ora a, e homenageia, Ra-Hoor-Khuit; a Ele, ele então sacrifica. O primeiro bolo, assado, ilustra o lucro tirado do esquema de encarnação. O segundo, misturado com o sangue de sua vida e comido, ilustra o uso da vida inferior para alimentar a vida superior. Ele toma, então, o Juramento e torna-se livre - incondicionado - o Absoluto. Ardendo na chama de sua Prece, e renascida - a Fênix!
Entendeste tu? Também a Fênix usa gravetos para acender o fogo no qual se queima.

No Magick, O Livro 4, Crowley comenta que a Missa da Fênix "deverá ser realizada diariamente ao pôr do sol por todo magista".

SINAL APROPRIADO



O texto original do ritual não explica qual é o sinal "apropriado" ou "sacramental". Duas possibilidades são o círculo e a cruz ou a "Marca da Besta".

Força e fogo são de nós!


H418
Em Ecclesia Tau Zagreus





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