A Lei é para todos, mas nem Todos são para a Lei: Um ensaio aos buscadores da Santa Ordem.
A Lei é para Todos, mas nem Todos são para a Lei:
Um ensaio aos buscadores da Santa Ordem
A Lei que me refiro no título deste ensaio é a Lei de Thelema, que pode ser resumida no axioma “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei”. “Amor é a Lei, amor sob Vontade”. O que muitos desconhecem é que a Lei de Thelema sustenta quatro emanações: Luz, Vida, Amor e Liberdade. Sem a compreensão dessas emanações o famoso axioma perde seu verdadeiro sentido, ou seja, o “Faze o que tu queres”, transforma-se em “Faz o que quiseres”, que é algo bem diferente. Sei que lhe parece confuso, e realmente é, e o propósito é fazê-lo refletir como tudo isso se projeta nesse plano de discos. Se tornar Thelemita significa vivenciar a Lei de Thelema, não apenas devorar sua ampla bibliografia. Apenas a vivência lhe trará a mudança de consciência necessária para alcançar a verdadeira compreensão da Lei.
“Pela Luz contemplareis a vós mesmos, e vereis Todas as Coisas, que em verdade
são apenas Uma Coisa, que tem sido chamada de Nada... Mas a substância da Luz é Vida, desde que sem Existência e Energia a Luz não poderia ser. Pela Vida, portanto, vos sois tornando
vos mesmos, eternos e incorruptíveis, flamejantes como sóis, auto-criados e
auto-mantidos...
Ora, assim como pela luz vistes, pelo amor sentis. Há um êxtase de puro
Conhecimento, e outro de puro Amor. E este Amor é a força que une coisas
diversas, para a contemplação, na Luz, da Unidade delas...
Finalmente, através da Liberdade tendes o poder de dirigir vosso curso de acordo
com vossa Vontade. Pois a extensão do Universo é sem limites, e vós sois livres de
tomar prazer como quiserdes, já que a variedade de existência é, igualmente,
infinita.” (Liber LC)
Muitos se aproximam da ideologia Thelêmica, achando que vão encontrar em sua filosofia (mal compreendia) respaldos para comportamentos egoístas, libertinos e irresponsáveis, e o uso desses artifícios podem ser facilmente encontrados nas redes sociais, ou nas solicitações de entrada em Ordens Thelêmicas. Não hesitam em deixar claro que não conhecem nada da filosofia, e que o principal fator de aproximação é ligado a falsos estereótipos ou apenas desejo de pertencer a um grupo.
Thelema emanando Luz, Vida, Amor e Liberdade, jamais é conivente com ideologias opressoras ou qualquer discurso de ódio. Saber respeitar as diferenças é fundamental, seja de gênero, raça, orientação sexual, crenças, política, etc. No universo há espaço para todos: cada estrela em sua orbita, e elas não precisam se chocar.
“Todo homem e toda mulher é uma estrela”. (Al i3)
Porém é necessário compreender que antes de ingressar em algum grupo (mesmo em redes sociais) ou Ordem, é importante pelo menos estar disposto a respeitar os princípios da filosofia de Thelema e de seus membros, antes mesmo de se aprofundar nos estudos. A Lei é para todos, mas nem todos estão aptos a comungar com Ela, e saber reconhecer e aceitar essa condição, é um ato de sabedoria: existem inúmeros caminhos além de Thelema, e com certeza, algum deve ser o seu.
“Pois também isto é a Alegria da Lei: que não há duas estrelas iguais, e vos
deveis compreender que esta multiplicidade é, ela mesma, Unidade, e que sem ela a
Unidade seria impossível. E isto é uma dura asserção à Razão, que é apenas
manipulação da mente, chegardes ao Conhecimento puro através da percepção
direta da Verdade.
Aprendei, também, que essas quatro Emanações da Lei flamejam em todos os
caminhos; elas vos serão úteis não só nessas Rodovias do Universo das quais eu
escrevi, mas em qualquer Atalho de vossas vidas diárias.” (Liber LC)
Outro ponto que gostaria de ressaltar é quanto à escolha da Ordem que deseja fazer parte. É providencial que você busque informações a respeito dos tipos de trabalho que cada Ordem executa, verificando seu histórico, e analisando por qual delas você sente maior identificação. Há Ordens Thelêmicas de caráter coletivo presencial, outras de caráter coletivo que também propõem estudo à distância, e a há também a Santa Ordem da A.’.A.’., que se difere das outras por ter um trabalho de caráter individual, à distância, baseado na relação instrutor versus instruído, onde seus membros não se encontram para qualquer tipo de ritualística, ou seja, a A.’.A.’. não atua em um templo físico, não tem CNPJ.
No decorrer do texto irei abordar como são os primeiros contatos do candidato com a Santa Ordem, pontuando alguns assuntos relevantes sobre o período do Estudante dos Mistérios e também do início do Probacionato.
Ao Estudante dos Mistérios
A Santa Ordem é uma fraternidade puramente espiritual que mesmo baseada na relação instrutor versus instruído, não é uma Ordem de instrução, e sim uma Ordem de treinamento, cujas práticas se baseiam no método da ciência ou Iluminismo Científico e no caminho da vivência da Lei de Thelema. Seu objetivo é alcançar a Grande Obra, que consiste na Visão e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.
Antes de ingressar na A.’.A.’., o candidato passa pelo período de Estudante dos Mistérios, que tem como finalidade prepará-lo intelectualmente para realizar o teste antes de afiliar-se à Ordem como Probacionista. Assim que o candidato se inscreve para tornar-se estudante, ele recebe uma lista bibliográfica que provém de um currículo básico com conteúdo Thelêmico e de varias escolas iniciáticas. O principal objetivo dessa fase intensa de leituras é ampliar o conhecimento e auxiliar na compreensão da linguagem do instrutor. Como o Estudante dos Mistérios não possui vínculo com a Ordem, esse período também é muito útil para fazê-lo analisar e decidir se quer ou não seguir nesse caminho, afinal, o ato de se desligar se torna muito mais fácil sem o peso de um juramento.
Há algumas regras de conduta que são recomendadas ao Estudante dos Mistérios, e que muitos não são informados. A primeira delas é não poder ingressar como estudante em duas linhagens ao mesmo tempo. Esse tipo de conduta, quando descoberta, resulta no desligamento do candidato de uma das linhagens, quiçá, em ambas, e da Santa Ordem.
Outra medida aconselhável de boa conduta é o Estudante dos Mistérios avisar o seu instrutor em caso de desistência. São muitos os que procuram ingressar na A.’.A.’., e muitas vezes, os instrutores por estarem com grande quantidade de estudantes, ficamos impossibilitados de aceitar outros. Por outro lado, compete também ao instrutor, se for do desejo dele, pedir confirmação da renovação do período de Estudante dos Mistérios assim que o seu candidato completar o ciclo de um ano.
O relacionamento entre o instrutor e seu estudante geralmente mantém um bom distanciamento, mas sempre se colocando à disposição para tirar dúvidas ou passar informações básicas. Cabe a cada instrutor definir o espaço de tempo que fará contato. A lacuna de comunicação por parte do instrutor é proposital, visto que não há vínculo do estudante com a Ordem, além disso, ele procura não interferir no ritmo dos estudos e não influenciar na escolha do candidato, em seguir ou não o caminho. Contudo, nada impede que o estudante mande às vezes “sinal de fumaça” ao seu instrutor, demonstrando interesse e comprometimento com os estudos. Fica como dica.
Torna-se muito comum, o estudante entrar em contato com o instrutor em busca do material de estudo. Só que atualmente a bibliografia indicada é facilmente encontrada na internet e em grupos de estudo, então, convenhamos, faz parte da tarefa do estudante providenciar os livros.
O relato mais comum dos candidatos é sobre a dificuldade de se organizar e criar uma rotina para manter o estudo em dia, e isso, talvez, deva ser o principal motivo de muitos desistirem. Realmente a quantidade de livros assusta, mas a recomendação é focar nos assuntos que o estudante desconhece, e nos livros de Thelema. O ato de Persistência já começa nesse primeiro momento, e assim, deverá permanecer por toda a jornada.
A A.’.A.’. é uma Ordem de ordálios, o que muito assusta, intriga e trás insegurança àqueles que a procuram. Já surgiram questionamentos quanto à possibilidade do estudante passar por ordálios durante essa fase. Pois bem, é perceptível que a dispersão já começa a atuar veemente, por hora, nem isso pode confirmar tal especulação, afinal, a ocorrência dos ordálios apenas inicia-se a partir da assinatura do juramento do Probacionista, que é quando o candidato cria vínculo com a egrégora, então é bem improvável essa possibilidade. De certo que uns tem maior ligação com a egrégora da A.’.A.’. do que outros, contudo, apenas a determinação em realizar o teste pode responder isso.
O teste para se tornar Probacionista pode ser pedido após o terceiro mês como estudante. Porém, há casos e casos. Por exemplo: há estudantes que pedem acesso à Ordem que já possuem uma boa bagagem de vivência no ‘ocultismo’, ou mesmo em Thelema, então, se eles já têm intimidade com o assunto proposto no currículo, não há necessidade de prolongar o período. Entretanto, mais uma vez fica a critério do instrutor definir o que me melhor se adapta ao caso do estudante.
Agora, para aqueles que estão vendo pela primeira vez os assuntos, ou não tem muita intimidade com eles, o melhor momento a pedir o teste, é quando sentirem confiança que o conteúdo estudado já é suficiente para fazê-lo. Compreendam que para o período do estudante, a ideia não é se aprofundar nos assuntos sugeridos, e sim ter um conhecimento prévio competente a prosseguir com os estudos e as práticas do Probacionato a diante.
Sabe-se que apenas o ato de conseguir ingressar como Estudante dos Mistérios já é um momento de sucesso, por saber da dificuldade que é conseguir fazer contato com a Ordem. A alegria da conquista preenche de tal forma, que acaba por vez alimentando o ego, a ponto de desviar o candidato dos estudos. Quando ele desperta para isso, o tempo já passou e a lista de livros continua enorme. Isso é recorrente, assim como também é normal sentir medo de pedir o teste e não atender aos requisitos do instrutor. Para muitos instrutores, o mais importante do teste não é se deparar com respostas corretas, mas sim avaliar a ortografia, a linguagem, a capacidade de discernimento, clareza, objetividade, e com isso observar traços da personalidade do futuro Probacionista que irá receber (ou não). É inacreditável, como nos primeiros contatos já pode se ter uma breve noção de como será a relação com o novo Probacionista.
Para fechar, uma dica aos estudantes: organize um tempo, se possível, diário, para os estudos; não deixe o medo, a ansiedade e o desânimo sabotarem o desejo de vocês; no início os buscadores de Thelema tendem sempre a cair na armadilha do ego ao interpretar erroneamente o “Faze o que tu queres”, se atente a isso; e por fim Persista.
Ao Probacionista
Após ter realizado e passado no teste, o estudante se torna Probacionista. Nesse grau, que é o primeiro da Santa Ordem, o Aspirante terá como objetivo realizar sua Grande Obra que é reconhecer a Natureza e os Poderes do seu eu Próprio Ser.
Mas para isso, ele terá que passar pelo treinamento referente ao seu grau, de acordo com os Libri 185 e 13, estando sob as instruções de um instrutor. A regularidade das práticas, principalmente da prática do Liber Resh, é essencial para que ele possa cumprir o que assinou no juramento, ou seja, realizar sua Grande Obra. Seu treinamento será avaliado através dos relatos que fizer no diário mágico, e o mesmo deverá ser entregue ao seu instrutor na frequência determinada por ele.
O Probacionato, como o próprio nome diz, é um período onde o Aspirante irá passar por diversas provações. Será testado pelo instrutor, será testado pelo seu principal ordálio, a Dispersão, e principalmente, será testado pelo próprio ego. Esse último sim é o ordálio mais difícil de ser percebido pelo probacionista, porque ele se esconde por detrás dos traços da personalidade do Aspirante, disfarçados em preguiça, descaso com as práticas, com os estudos e com a vida, dificuldade de aceitar instruções, arrogância, carência excessiva, desconfiança quanto à capacidade de instrução do instrutor, dentre outros inúmeros aspectos.
Logo no primeiro contato que o Aspirante tem com seu instrutor, após assinar o juramento, lhe é solicitado que leia o Liber LXI, Liber Cause. Esse Liber além de expor uma breve história da Santa Ordem, há na primeira parte uma Lição Preliminar que é de grande valor á todos os membros da A.’.A.’., pois ele aborda a Iniciação, o iniciado e o iniciador. Um conteúdo que deveria ser revisto com certa frequência por todos, e nunca ignorado por um Probacionista.
“Embora ninguém possa comunicar o conhecimento ou o poder para realizar isto que nós podemos chamar a Grande Obra, é, todavia, possível que os iniciados guiem outros.” (Liber LXI)
É de suma importância que todo Probacionista tenha em mente que os instrutores, não são Professores, nem Mestres, mas que tem um papel imprescindível dentro de uma linhagem. Cada qual com seu jeito de ser, de se expressar, e acima de tudo com experiência suficiente para guiar aquele que está começando no caminho, ou, que mesmo já tenha alçado alguns passos à frente.
O instrutor não está preocupado com o nível intelectual do instruído, não quer saber a quantidade de livros que ele leu em sua jornada, muito menos, concorrer no quesito conhecimento. O que ele realmente almeja, é realizar sua missão, colocando-se à disposição atenciosamente; dando aquelas dicas essenciais (os famosos ‘pulos do gato’), bem como regozijar-se com as conquistas e sucesso do instruído, aprendendo sempre muito com ele.
“Todo homem deve superar seus próprios obstáculos, expor suas próprias ilusões. Porém, outros podem ajudá-lo a fazer ambos, e eles podem torná-lo completamente apto a evitar muitos dos falsos caminhos que não levam a lugar algum, os quais tentam os pés cansados do peregrino não iniciado. Eles podem, além disso, assegurar que ele seja devidamente provado e testado, pois há muitos que pensam ser Mestres, os quais sequer começaram a trilhar o Caminho do Serviço, que para lá conduz.” (Liber LXI)
Finalizo esse ensaio, com a esperança de tê-los feito compreender a escolha do título. Reafirmo: A Lei é para todos, mas todos aqueles que estejam dispostos a vivenciar uma constante mudança consciencial, em prol de se desvencilhar das amarras socioculturais relativas a padrões que fogem dos princípios da Lei de Thelema.
Quis abordar durante o ensaio o período de Estudante dos Mistérios e alguns pontos que vejo relevância no Probacionato, por serem os primeiros contatos do Aspirante com a Santa Ordem. As experiências daqueles que passam ou irão passar por essa fase são bem semelhantes às adquiridas pelos irmãos mais antigos, então, por isso precisam ser compartilhadas, no intuito de esclarecer dúvidas e eliminar qualquer tipo de dogma ou informação equivocada vinculada a vivência na Ordem.
O caminho da Lei é de evolução espiritual, e exige um intenso trabalho interno, que precisa ser realizado com muita disciplina. É um trabalho minucioso do encontro Consigo Mesmo, onde aprendemos a reconhecer e a respeitar nossa natureza, valorizando a si e ao próximo.
Convido-os a permitirem-se a abrir os olhos para um novo horizonte onde a Luz, a Vida, o Amor e a Liberdade possam imperar. Por fim:
“Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.” (Al i40)
“Amor é a Lei, amor sob Vontade.” (Al i57)
Soror Ignis
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