No Mundo da Lua Ou Nove Considerações sobre Yesod



Nesses dois anos de Revista 777 tem um texto que gosto muito de ler e reler e indico bastante a certos leitores que é um texto do frater QVIF chamado 10 considerações a respeito de Malkuth, sempre ensejei escrever uma continuação dele, não no mesmo estilo, até porque são vivencias diferentes, mas a vontade foi aquilo que permaneceu, além de uma certa cara de pau, assim escrevo essa missiva
à respeito das minhas nove considerações sobre a nona Sephirah que é chamada Yesod, significando "Fundação". Ao mesmo tempo que faço uma carta àqueles que vivem no mundo da Lua, sem referências aos esquecidos ou aluados, muito menos ao Joseph Smith e seus mórmons, também escrevo para qualquer pesquisador ou até mesmo um curioso.

Uma primeira consideração ou curiosidade sobre esta sephirah é que ela também é chamada El Shaddi, ou Shaddai El Chai, que tem sido traduzido como "Deus Vivo Todo-Poderoso", mas a tradução mais correta segundo alguns cabalistas seria "seios fluidos de Deus", estabelecendo assim certas "noções de fertilidade", que abordaremos a frente. Segundo os antigos cabalistas estas imagens de Yesod, estavam ligados a uma imagem de um deus andrógino. "Na tradição rabínica, El Shaddai é dado como o nome da divindade em lugares, por exemplo, "anda adiante de mim" (Gênesis 17: 1), e pode originalmente ter significado "Deus, uma das montanhas". Seu principal símbolo a Lua (refletindo Tiphareth, o Sol) é conhecida também como a Chama Lunar. Ela também tem sido chamada de "Espelho" ou "Prisma", que reflete as esferas ou níveis mais elevados, e é dito que é o “lugar” onde as visões ocorrem, claro que esse lugar é dentro.

Prosseguindo num segundo ponto, além de ter a alcunha de a inteligência purificadora, é comumente chamada de “plano astral” ou “alma do mundo”, Yesod é aquele fundamento de sutil substância eletromagnética no qual todas as forças mais elevadas estão focalizadas, constituindo a base ou o modelo final sobre o qual o mundo físico é construído, uma planta um blueprint. Como Yesod tem natureza lunar, a experiência do grau de Yesod, é relatada como ter a experiência da visualização da mecânica do Universo, além do controle das fundações do ser.

A mecânica do Universo tende a ser um pouco mais complexa que um motor de Fusca, mas note que ao deparar com a tampa do motor aberto e ver aquela visão, temos a noção do som, do cheiro e da temperatura, mas você saberia tudo que está ocorrendo para ele funcionar? No Universo manifestado de Assiah nada nasce sem sexo, nem um pensamento, mas Yesod é também passagem para um outro universo, qual será a chave dessa porta? De sobre maneira as fundações de um ser definem um tanto sobre o que somos e de onde viemos, podemos até citar um “do pó vieste ao pó retornarás”, mas “Ai daquele que na Glória do momento de um beijo de Nuit lhe der pó...”. O sistema simpático e parassimpático também fundações do corpo trabalhando em estímulos e desestímulos viscerais, os dois trabalham em harmonia para a coordenação da atividade visceral adequando o funcionamento de órgãos as diversas situações no qual é submetido, não esqueçamos que tudo na vida são glândulas endócrinas e plexos solares e esplênicos.

Ah sim que gana! Que força! Que tesão! Sim que tesão! Que instinto, adentramos em outra poderosa força física e animal que nos trouxe até aqui e assim no terceiro aspecto ou consideração. Yesod está associada à forte imagem primal e aos sentimentos de nossa natureza animal. Não é necessário ficar imóvel de corpo e mente por longos períodos de tempo todos os dias, mas para alcançar a perspectiva em Yesod é necessário dominar Asana, isto é, estar verdadeiramente imóvel e confortável por um momento. Pode levar mais de um ano de prática diária para alcançar algum sucesso, Pranayama lhe ajudará no restante principalmente no quesito do que fazer e como se comunicar, e vivenciará o Ritmo, depois de certo domínio de ambos, nós acessamos o plano astral através de nossas mentes subconscientes, ou como Freud queria: o inconsciente. O oculto está oculto sob a superfície, no reino do inconsciente, o reino instintivo lunar.

A partir disso, nossa quarta consideração esclarece que alguns cabalistas dizem que o universo manifesto é uma expulsão espiritual da "queda" denotada em Gênesis. Daí uma alusão ao Corpo que é o Nephesch; geralmente se refere a Yesod, mas em Assiah o processamento de energia que circula pelo corpo, assunto que ainda ousarei abordar mais à frente. O mundo dual é "o todo" e Yesod é a base ou a Fundação na manifestação dual. Yesod é também o portão que abre o universo Yetzirático, onde a sephirot ganha a alcunha de fundação da Psiquê, local onde a humanidade forma a imagem que fazem parte de seus corpos, no indivíduo representa o impulso sexual e todos os outros reflexos de sobrevivência é também o lar do inconsciente coletivo de Jung, "contém toda a herança espiritual da evolução da humanidade", então existem dois métodos de estudar o inconsciente coletivo: Mitologia e Análise, segundo Regardie a maioria das travas psico sexuais da humanidades reside nessa esfera, não à toa alguns cabalistas chamam esse processo de fundação de Zelem, ou o vaso de sombras no qual o corpo é moldado e alcança a maturidade, assim como outro título de Yesod “a Tesouraria de Imagens” ou as relações das personalidades arquetípicas que são um reflexo zodiacal, tema sobre o qual aborda o Liber 963 ou CMLXIII Θησαυρου Ειδωλων.

As fundações do ser, tratam do inconsciente em si mesmo o reflexo do Sol, reflexo de Neshama , a parte astral de Nephesh, Todas, ou quase todas, as características atribuídas pelos psicanalistas ao subconsciente são analogamente atribuíveis a Nephesh, ou ao menos àquele aspecto de Nephesh que diz respeito aos instintos e impulsos, e que atua como um depósito automático de sensações e impressões, tal como a expressão inconsciente coletivo pode muito bem ser aplicada ao nosso conceito de luz astral. Todos os instintos fundamentais de um homem, os impulsos radicais primários ou condicionamentos que ele vivencia, pertencem ao fundamento do qual toda a energia vital flui, por isso com a Adaga o mago trabalho sua consciência automática, toma a rédea de certas naturezas, dizem alguns que ele/ela o Mago crava em sua Adaga sua “palavra” que representa seu universo mesmo que de maneira incompleta ainda.

O mecanismo do Universo parte do pré suposto da visão de que você é o centro do seu próprio Universo, seu Sol, solis internum, mesmo isso escrito e escancarado em muitos lugares tende a passar despercebido, toda a vez que isso é negligenciado o universo nos ataca com os trancos dos vícios elementais que na medida que estamos um pouco mais despertos as rebarbas se tornam mais fortes, alguns chamam isso de distração.

Assim nosso 5º apontamento é que ao receber o reflexo do Sol ou as emanações da Lua, nosso Sol menor vemos o binômio de que mudança é estabilidade, e estabilidade é mudança, a mudança da equação refere se a volatilidade do elemento Ar e do Ruach que são as forças predominantes em Yesod e de certo modo o gerador de nossos obstáculos, aqui encontramos a sutil substância eletromagnética na qual todas as forças superiores estão focalizadas, o éter, e constitui a base ou modelo final sobre o qual o mundo físico é construído. Sua atribuição elemental é a do Ar, sempre fluindo, mudando, e em um fluxo constante - mas por causa desse fluxo, em perpétuo, O Zelator quebra a ilusão da duração e rigidez da manifestação terrena representada por Saturno - O Universo do Tarô e se liberta da percepção de aprisionamento. A percepção é que não há permanência real no mundo e, no esquema maior das coisas, temos pouca importância. A liberdade ante a distração que tende a turvar as ideias de permanência, ou seja, aquilo que fica. (which that remains). Antes desse autoconhecimento é necessário a vivência das imobilidades e do ritmo, fora disso vira tudo mera especulação.

Na 6ª consideração trataremos ainda que poeticamente de uma definição de caminho, não intelectual embora, sabemos que cada um escolhe por si manifestar em seu microcosmo ou em seu macrocosmo sua visão aspirada, fruto das suas bases piramidais já construídas e agora ampliadas por sua vontade. As formas fugazes e o movimento de “maré sonsa” de Yesod com todas as suas implicações constituem a permanência e uma estranha sensação de segurança do mundo físico, o prazer remete uma sensação de segurança enquanto a dor é um lugar onde o prazer aparentemente descansa. Com o passar do tempo a segurança se transforma na prisão do Ruach, daí a necessidade da mudança, pois é nas trocas de marés, nos períodos de calmaria e solavancos do mar que se pode zarpar com perspicácia enquanto a estabilidade consiste na visão do SAG experienciado nos quatro noves arcanos menores do tarot de Thoth. Estabilidade é mudança.

De modo que Marte em Gêmeos (nove de espadas, Crueldade) seja sempre uma agonia mental onde o Ruach é consumido em beligerância da instabilidade (um inquisidor que se sentencia e se consome na própria fogueira), porém pode se transformar em uma força (ainda que desvairada) poderosa de dissolução de males físicos se corretamente utilizada ou uma fúria dos apetites em grosseria sem refinamento, necessária mudança. A carta Ganho (nove de discos, Vênus em Virgo), dá o argamassa da estabilidade desde que mantenhamos a visão do SAG em mente o que via de regra ocorre é um ordálio da estagnação muito bem salientado no Taoísmo a combinação dos discos ou moedas nesta carta quando visualizados por muito tempo costumam pregar peças, sua coloração verde e rosa inevitavelmente me lembra alguns sambas da Mangueira, e sua marcação rítmica estável, mas seguindo. Em Felicidade (nove de copas, Jupiter em Piscis) temos peixes em toda sua ilusão no Ar, ou seja, é uma carta de júbilo pois é o mais benfazejo aspecto da água, corresponde a Laetitia entretanto o apego ao momento estável pode ser sinal de perigo. E em Força (nove de bastões, Lua em Sagitário) temos a simbologia dupla da Lua na arvore da vida, a carta representa em si o trabalho de Yesod, de tudo que foi escrito até aqui, em Liber 418 no décimo primeiro Aethyr IKH nos revela coisas interessantes, e simboliza em si a mudança e a estabilidade, equilibrando isso tudo mais a visão do maquinário, a mudança garante a ordem da Natureza.

O 7º ponto é: Qesheth como a conclusão da provação de Zelator em Yesod alude à conexão mística entre Yesod e Da'ath (o Abismo). Qesheth então finalmente traz o Aspirante para Hod e então a flecha se inclina para a esquerda na Árvore, em vez de diretamente para Tiphareth (o que requer o sucesso do percurso de Paroketh) tanto quanto de Tiphareth, a flecha se curva para a esquerda na Árvore, trazendo o Aspirante para Binah ao invés de Kether, o zelator se lança a esquerda buscando o equilíbrio intelectual, a comunicação verbal e não verbal em Kokab ou em Reqia depois a direita buscando o equilíbrio emocional e ardente, as mobilidades padrões de Nogah ou Shechaqin somente depois disso e ouvindo os reflexos de uma conversa que se iniciou há algum tempo ele volta da onde saiu, um passo à frente ainda vendo e recebendo o esplendor através de um véu,Tiphareth, que é o Sol, e chove sobre Yesod. É essa luz que deve ser adorada e vista como o ponto de partida da ascensão da Consciência. Essa luz que é vista pela primeira vez em Yesod é a luz fraturada do Véu de Qesheth. É a fonte da infinita diversidade da vida - as muitas estrelas e suas órbitas e seus sistemas, a partir daí resta me o silêncio.

A 8ª consideração sobre o ponto de vista do trabalho em Yesod, é o Svadisthana Chakra, o lótus de seis pétalas ou o chakra da lua crescente, sempre associado aos órgãos sexuais. Aqui devemos aprender a volitivamente direcionar nossa energia sexual e criativa, procurando vencer a inércia, a ira, a dispersão e a morbidez emocional, todas distrações. No lugar de habitação do eu, nossa prática é pessoal e claro o que é bom para um pode não ser para o outro, toda prática do ponto de vista Thelêmico é sempre em direção à Grande Obra, pode ser um mantra, uma visualização, uma asana ou tudo isso junto, por isso temos em Liber AL,1: 52, "... se o ritual não for sempre para me: então esperai os terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuit!" Uma boa dica de prática é sempre procurar levar as sensações para o corpo físico, pois novas formas de comunicação acontecerão. Todos que se descobriram como centro de seu próprio universo, devem percorrer sua órbita soberana, provações ou ordálias irão ocorrer até para que cada um tenha sua trajetória testada.

9ª consideração:
Imobilidade que também é responsável por desfazer a consciência automática e anatômica além de destruir as rupturas do corpo estático também se chama ASANA.

O Ritmo de foles que desfaz a consciência psicológica e destrói os condicionamentos involuntários do corpo Rupa, também se chama PRANAYAMA.

Asana e Pranayama são suas ferramentas mais importantes para os que desejam o sucesso na empreitada de vislumbrar a própria Verdadeira VONTADE, mas sempre há dois gumes numa adaga que se preze, há também os aluados.

Força e fogo são de nós.


H418


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